Por Henrique Guimarães
No dia 13 de Julho de 2007, estive no Maracanã para a abertura dos XV Jogos Pan-Americanos. Bela festa, cultura brasileira, templo do esporte, ingressos caros... Bem, é verdade que havia um setor que cobrava 20 reais pelos ingressos, mas daí para cima só a partir de 100. Apesar da maravilhosa apresentação de nível olímpico, o que mais foi debatido sobre esse importante momento do nosso esporte, foram as vaias ao presidente Lula. Crônica de uma tragédia anunciada. No dia anterior, na coluna de Anselmo Góis, do Jornal O Globo, já havia sido dito que no ensaio geral do dia 11, o presidente já era vaiado. Bem, o que se faz num ensaio geral é ensaiar.
Estranhas as vaias, pois o presidente foi eleito e reeleito com a suprema maioria dos votos no Rio de Janeiro, e é bom frisar que, claramente, a maioria do público era de cariocas. Mas aí é que importa o valor dos ingressos. Quem paga mais de 100 reais para ir a um evento como esse, é uma classe que se sente prejudicada pela tentativa de não privilégio característica desse governo claramente popular, e que é digno de muitas críticas. Críticas essas que devem ser feitas por cartas, manifestos em frente à sede do governo, ou, até mesmo, através de obras de arte, e não num momento em que o Brasil está sendo exposto, e o espírito olímpico está sendo proclamado. Não há nada mais simples quanto acompanhar vaias ou aplausos, ou até mesmo, não há nada tão acrítico quanto isso. Como disse Luiz Fernando Veríssimo em sua crônica “Cumplicidade”, ao Jornal O Globo do dia 19 de Julho: “A companhia do que há de mais preconceituoso e reacionário no país inibe qualquer crítica ao Lula, mesmo as que ele merece. Enfim: antes de entrar num coro, olhe em volta.”
Mas as vaias não pararam por aí... Enquanto a delegação de atletas norte-americanos passava pelo desfile das delegações, foram ouvidas as vaias nada hospitaleiras. Nada de respeito, o que se queria era usar meros atletas para uma destruição moral em praça pública. Para que servia então a chama de paz e espírito helênico que percorria o território Tupiniquim desde Junho?
A partir daí começaram os jogos... E eu, como aficionado que sou, estive em diversas competições. Vi um triste time do México ser massacrado pelo time de vôlei feminino do Brasil e também pela torcida, que “futebolisticamente” não tinha pena das massacradas. Esse mesmo time do vôlei brasileiro protagonizou junto com as cubanas um dos maiores jogos de voleibol de todos os tempos, mas, mesmo assim, as vitoriosas foram vaiadas pela torcida que presenciou aquele momento. Já o nosso time de futebol sub-17 protagonizou um vexame, ao perderem para o Equador e serem eliminados, os garotos de 16 e 17 anos foram chamados de “pipoqueiros”. No judô, as conseqüências foram mais sérias. Após objetos serem atirados pela torcida, furiosa com a decisão da arbitragem de punir a atleta brasileira na final do peso até 52 kg, dando a vitória para a atleta cubana, foi vista uma briga digna de socos e pontapés entre representantes das delegações cubana e brasileira.
Bem, ainda temos mais Pan, e eu, que ainda estarei em algumas competições, espero que esse nacionalismo irracional insuflado pela mídia seja substituído pela glorificação de nossos atletas e pela vitória do espírito olímpico. Como carioca, gostaria de ver a minha cidade apta a sediar os jogos olímpicos de 2016, e quero que seja real essa hospitalidade carioca que tanto se vê pelas ruas, mas que não é vista nas modernas instalações esportivas desses jogos. Cuidemos do nosso patrimônio, seja ele do governo municipal, estadual, nacional, ou até não governamental.
Sejamos mais críticos, e, ao mesmo tempo, mais respeitosos, para que continuemos sendo bem tratados pelo mundo afora. Ah, e quanto ao nosso presidente, repetirei a frase de Veríssimo sobre as vaias: “Olhe em volta”.
Rio de Janeiro, 22/07/2007.