Por conselho médico montei meu escritório na cama hoje. Pelo mesmo motivo também deixo alguma novidade por aqui. Sobre mitos médicos - homenagem?
Há tempos tinha isto guardado para pôr aqui, agora vai. A revista BMJ (quer dizer "British Medical Journal", mas por algum motivo eles preferem a sigla como nome da revista) publicou uma breve análise de sete mitos médicos comuns, daqueles que se ouve em botequim ou nos conselhos das mães e das avós. De acordo com os autores, na melhor das hipóteses não há nada que sustente esses mitos a não ser a crença. Vamos a eles.
Beba no mínimo oito copos de água por dia
A origem do conselho é incerta, mas uma coisa parece certa: é infundado. Os autores sugerem que juntando a água embutida na comida, mais café, chá... já basta para suprir a necessidade diária. Eu, que bebo muita água porque sinto sede constante, é que tenho que me cuidar: excesso de água pode até matar, as plantas que o digam.
Só usamos 10% do cérebro
Essa eu não sabia... Mas parece que muita gente já ganhou dinheiro prometendo desenvolver as capacidades das pessoas ampliando o uso do cérebro. Pessoas que sofreram lesões cerebrais são foco importante de estudo porque qualquer parte danificada parece afetar o comportamento ou o organismo de alguma maneira. Estudos mais precisos sobre funcionamento dos neurônios concordam: ainda não se encontrou a parte dormente do cérebro.
Cabelos e unhas continuam crescendo no túmulo
Múmias com cabeleiras e garras em saca-rolhas... o mito parece se basear na decomposição dos tecidos moles depois da morte. A pele e a carne se decompõem ou encolhem, e deixam unhas e cabelo ali onde estavam. Parecem mais longos, mas não estão crescendo. Os hormônios e maquinaria que cuidam disso já deixaram de existir.
Ler com luz fraca acaba com a visão
Esta é minha favorita, que volta e meia tenho que brigar pelo direito de ler. Ler com boa luz é certamente mais confortável, não é preciso esforço para fazer foco nem piscar mais para manter os olhos hidratados. Mas parece que o consenso atual entre oftalmologistas é que ler com pouca luz não causa danos permanentes aos olhos.
Raspar as pernas faz os pêlos crescerem mais depressa e mais grossos
Ao cortar os pêlos na base, só a parte morta é afetada. As fábricas dentro da pele ignoram totalmente o acontecido e continuam se esforçando como de costume para infernizar a vida das mulheres. O problema é que os pêlos aparados perderam a ponta afilada e por isso parecem mais grossos. Além disso, não tiveram chance de ser clareados pelo sol e parecem mais escuros.
Telefone celular em hospital é perigoso
Diversos estudos ainda não conseguiram justificar a proibição dos celulares em hospitais. Se há alguma interferência em aparelhos, ela parece ser mínima e só acontecer quando o celular está a menos de um metro. Por outro lado, a comunicação rápida e eficiente por celulares tem ajudado médicos a salvar vidas. Agora (e isto é palpite meu), se todas as pessoas ficassem tagarelando no telefone, hospitais seriam especialmente infernais...
Comer peru dá sono
Essa eu não sabia! Já tinha ouvido isso de embebedar peru para facilitar o abate, mas será que a gente se embebeda por tabela? Parece que o problema seria o triptofano, aminoácido abundante na carne de peru que entra na composição de alguns remédios para dormir. Mas segundo os autores na BMJ, carne de peru na verdade não tem mais triptofano que outras carnes. Esse mito deve ter origem nas refeições de ação de graças, a data mais festejada nas famílias norte-americanas. As pessoas comem loucamente, pratos inúmeros. Com vinho. E torta de abóbora e outras coisas de sobremesa. Depois, com as calças já desabotoadas para aliviar a pressão, põem a culpa no prato principal - o coitado do peru!
(A foto eu surrupiei daqui)