27 junho 2008

Corações partidos no parque

Os casais que, à beira do lago do parque do Ibirapuera, não contemplam as águas nem as garças nem os pavões - porque só têm olhos um pro outro, não precisam se preocupar.

Os corações partidos - e como consertá-los - estarão no auditório improvisado junto à exposição Revolução Genômica. Às 11 da manhã do domingo (29 de junho) José Eduardo Krieger, especialista em hipertensão da Faculdade de Medicina da USP, apresentará a palestra "Genômica, saúde e reparação cardíaca utilizando células-tronco".

As palestras são gratuitas no pavilhão Armando de Arruda Pereira, que faz parte da marquise do Ibirapuera. Veja mais aqui.


Imagem daqui.

Blogues em português - pra quê?

A internet cada vez mais transborda de informação. Há quem tenha opinião sobre tudo, que explique tudo, exponha fatos sobre tudo. Tal enchente acaba tornando mais difícil pesquisar.

Com a limitação de tempo que impede a maior parte das pessoas de acompanhar os desdobramentos de discussões e assuntos - virtuais ou reais - neste mar virtual, às vezes me parece que quem se aventura a escrever está fadado a falar sozinho. É um pouco o que tem acontecido na
roda de ciência.

Fiquei pensando. Qual é a importância de existir uma blogosfera científica em português? Respondo no que me diz respeito: é um ponto de encontro. Muitos pontos de encontro. Para quem ganha o pão de cada dia divulgando ciência, é precioso.

No
ciência em dia encontro um colega mais experiente, com quem aprendo tanto concordando como discordando. Encontro também seus visitantes, alguns deles pesquisadores de destaque. Lá conheci o geneticista Marcelo Nóbrega, da Universidade de Chicago, e o físico Osame Kinouchi, da USP de Ribeirão Preto, que (esporadicamente) mantém o blogue Semciência e entra na roda.

No
Ecce Medicus encontro um médico que gosta de pensar e discutir ciência e prática médica, sempre alerta a idéias e artigos interessantes.

No
Brontossauros em meu jardim encontro o biólogo Carlos Hotta, que por enquanto resiste à minha curiosidade de saber mais sobre o que ele faz durante a semana mas não perco as esperanças.

E por aí vai. Não vou puxar o saco de todo mundo, só umas pinceladinhas para pôr aqui um pouco da diversidade que me encanta e me ajuda no meu trabalho. Fico curiosa para saber o que cada um encontra na sua blogosfera particular.

Isto é parte da discussão atual no
roda de ciência.
Comentários, por favor, aqui.

Tirei a bela foto
daqui.

25 junho 2008

Operação grou

O que os ultraleves fazem no meio da passarada? São grous-americanos, a maior (em estatura) ave dos Estados Unidos. E mais ameaçada de extinção.

Vi ontem num
vídeo da National Geographic que achei sensacional ("Operation migration", de 19 de maio).

A turma da "
Operation migration" (de onde tirei a foto) se veste nuns sacões brancos para não deixar as aves muito à vontade entre humanos. Eles reproduzem os grous em cativeiro e treinam os bichos a seguir umas reproduções de cabeça de grou que levam como prolongamento do braço.

O problema aparece no inverno, porque os grous do projeto não sabem o caminho para a Flórida. A estranha figura branca disforme que sacode uma cabeça de grou entra então num ultraleve e levanta vôo. Os grous seguem. Depois de uns vôos de treino, rumam para a Flórida. No começo é uma turma desorganizada, mas aos poucos as aves aprendem a usar as correntes de ar quente e o vácuo deixado pelo companheiro motorizado e entram em formação - um V com o ultraleve no vértice.

Uma vez na Flórida sabem voltar para o Wisconsin no final do inverno - e no ano seguinte poderão ensinar o caminho à próxima geração. O projeto já estabeleceu uma população de 600 aves no Wisconsin, onde estavam extintas. A um custo de 100 mil dólares por ave, contando tempo, esforço e doações.

23 junho 2008

Para quem lamenta ter perdido a palestra do Emilio Moran no sábado - ou viu e quer mais -, outra chance. Hoje às 19h ele vai falar sobre o livro que está lançando, Nós e a natureza (Editora Senac).

Antropólogo com formação em ambiente, ele tem um imenso conhecimento sobre a Amazônia e sobre a relação das pessoas com o meio ambiente de maneira geral, promete ser interessante. Leia mais aqui.

Leia aqui também uma entrevista com ele que a Pesquisa Fapesp publicou há dois anos.

A palestra/lançamento será em São Paulo, na livraria Cultura da avenida Paulista, no Conjunto Nacional - hoje às 19 horas.

20 junho 2008

Amazônia e arroz no parque

Dois convidados internacionais fazem palestras no próximo fim de semana dentro da programação cultural da exposição Revolução Genômica.

Às 15h do sábado (21/06), o antropólogo cubano naturalizado norte-americano Emilio Moran, da Universidade de Indiana (EUA), fala sobre “Expansão internacional da antropologia ambiental: experiências na Amazônia”.

Às 11h do domingo (22/06), a bióloga norte-americana Robin Buell, da Universidade Estadual de Michigan (EUA), aborda o tema “Arroz: um exemplo de como a genômica pode mudar as abordagens da ciência”.

As duas palestras são gratuitas e ocorrem no auditório anexo ao Pavilhão Armando de Arruda Pereira, antiga sede da Prodam, no Parque do Ibirapuera (portão 10), em São Paulo, onde está em cartaz a exposição científica. A programação cultural da mostra Revolução Genômica está a cargo da revista Pesquisa FAPESP.

Professor de antropologia e diretor do Centro Antropológico para Treinamento e Pesquisa em Mudanças Ambientais Globais da Universidade de Indiana, Emilio Moran foi um dos primeiros pesquisadores a lançar um olhar de cientista social sobre o debate do aquecimento global, por muito tempo confinado ao âmbito da meteorologia. Estudioso do Brasil, é autor de vários livros sobre a Amazônia e o impacto das mudanças ambientais. Participa também do Experimento do LBA, o maior projeto de pesquisa internacional sobre a floresta tropical.

Pesquisadora do departamento de biologia vegetal da Universidade Estadual de Michigan, Robin Buell estuda aspectos genômicos da biologia vegetal e dos patógenos que atacam as plantas. Com grande conhecimento em bioinformática, teve participação fundamental nos trabalhos de montagem e de anotação do genoma de duas importantes culturas agrícolas, o arroz e a batata. O genoma do arroz é considerado como modelo para o estudo do DNA de outros cereais.

18 junho 2008

Ciência sem roda

O João Carlos acaba de pôr a roda de ciência de volta em movimento. Fica aqui o aviso e minha torcida de que ela não acabe como esse moinho português.

17 junho 2008

Milho e memes

Andei lendo as reflexões recentes do Jean-Claude Bernardet sobre o livro O dilema do onívoro, de Michael Pollan. Para quem gosta de pensar, vale a pena matutar sobre como o milho acabou por nos domesticar, o que isso tem a ver com as idéias do filósofo Edgar Morin e com os memes de Richard Dawkins.

16 junho 2008

Roda viva na rede

Vale a pena conferir "Memória Roda Viva", um projeto conjunto entre Fundação Padre Anchieta, Fapesp, Labjor e Nepp (Unicamp).

No site já estão algumas das entrevistas feitas no programa da TV Cultura, mas o plano é que todas estejam armazenadas ali: vídeo, fotos e transcrição incrementada com informações adicionais sobre certos verbetes.

A idéia é que seja um instrumento de pesquisa valioso em cima de um arquivo que detém preciosidades do pensamento contemporâneo.

15 junho 2008

Dançarinos emplumados

Graças ao biólogo Mercival Francisco, da Universidade Federal de São Carlos em Sorocaba, e seu aluno Juninho, pude me meter no mato atrás dos discretos e esplêndidos tangarás-dançarinos.

Durante o doutorado me encantei com outra espécie de tangará, que minha amiga e colega Emily estudava no Panamá. Foram muitos os cafés que tomamos em que ela me relatava as coreografias dos passarinhos, muitas visitas à sala dela em que admirei fotos e vídeos.

Estes daqui dançam com mais espetáculo - até oito machos coordenados para atrair uma fêmea. Mas têm uma deficiência, a meu ver: os panamenhos têm pernas cor-de-laranja que acho um luxo.

Na viagem ao Parque Estadual Carlos Botelho (que vale a visita, muitos bichos numa bela mata) em busca de fotografar a dança dos tangarás, eles nos driblaram. Enquanto esse macho da foto comia perto de mim (para me distrair?), eu ouvia a vocalização típica da dança acontecendo ali perto. Não consegui ver.

Mas se quiser ver o bichinho de frente, mais o texto completo que está na edição de Pesquisa Fapesp agora nas bancas, e mais um vídeo da dança, olhe aqui.

14 junho 2008

Mistério dos morcegos

Foto de Alan Hicks, do Departamento de Conservação Ambiental de Nova York

Imagine entrar numa caverna e, além de ver morcegos pendurados nas reentrâncias do teto, ter que tomar cuidado para não pisar nos inúmeros cadáveres dos pequenos mamíferos voadores. É o que tem acontecido no leste dos Estados Unidos.

Não é novo, mas é das coisas que há meses ando com vontade de comentar. E o mistério continua. Duas espécies de morcegos do gênero Myotis têm morrido às pencas, sempre com focinho e asas polvilhados por um fungo branco. A doença foi por isso batizada de "síndrome do nariz branco" (White Nose Syndrome).

Na semana passada pesquisadores de vários lugares se reuniram em Albany, no estado de Nova York, para juntar dados e mentes. Não sei se chegaram a algo, mas até agora o que ouvi é que eles não sabem o que está causando a mortalidade. O fungo está lá, mas parece haver um consenso de que ele é uma infecção secundária, não a causa do problema.

Bactéria, vírus... uma coisa em comum entre os morcegos que morrem é que estão todos abaixo do peso. Uma hipótese é que eles - por algum motivo desconhecido - não conseguem engordar que chegue antes da hibernação. Aí começam a hibernar já meio magrinhos e, depois de uns meses inertes sem comer, ficam suscetíveis a qualquer infecção. E nunca chegam a acordar para ver a primavera.

Algumas explicações aventadas são: eles não estão se alimentando que chegue, talvez por alterações na composição vegetal do ambiente (plantações) ou porque pesticidas estão matando os insetos que eles comeriam (plantações outra vez); ou estão acordando no meio do período de hibernação (oscilações na temperatura?) e com isso perdem energia preciosa. São possibilidades graves que remetem ao desequilíbrio ecológico causado por atividades humanas.

Lembra o que vem acontecendo com as abelhas, outro mistério ainda no ar que aponta para desequilíbrio ambiental em vários níveis. Escrevi sobre isso há quase um ano na Pesquisa Fapesp.

Mais informações (em inglês) sobre os morcegos no site da sociedade espeleológica norte-americana.

13 junho 2008

Mudanças climáticas e genômica em museus - no parque

foto daqui

Este fim de semana promete ser interessante no parque paulistano do Ibirapuera.

No sábado (14 de junho), às 15h, o climatologista Carlos Nobre falará sobre a “Ciência do sistema terrestre e a sustentabilidade da vida no planeta”. Carlos Nobre foi diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e é um dos participantes brasileiros do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão internacional ligado à ONU que ganhou o prêmio Nobel da Paz em 2007 junto com o norte-americano Al Gore.
Ele tem propostas de sustentabilidade para a Amazônia que envolvem instalar pólos de desenvolvimento por lá. Não sei como isso funcionaria, e por isso mesmo espero que ele fale sobre isso - é polêmico, interessante e essencial.
Às 11h do domingo (15/06), o norte-americano Rob DeSalle, curador da versão original da mostra Revolução Genômica, fala sobre “A genômica no museu”. Ele é curador da seção de zoologia de invertebrados do Museu de História Natural de Nova York e co-diretor dos laboratórios de biologia molecular da entidade. Um de seus grandes temas de estudo é a evolução de moscas do gênero Drosophila, especialmente nas ilhas do Havaí, com o auxílio de ferramentas da biologia molecular. Se encaixa bem no seu jeitão de surfista moderno, pelo menos no que vejo por e-mail e no site do seu laboratório.

As duas palestras, gratuitas, ocorrem no auditório anexo ao Pavilhão Armando de Arruda Pereira, antiga sede da Prodam, no Parque do Ibirapuera (portão 10), em São Paulo, onde está em cartaz a exposição científica. A programação cultural da exposição Revolução Genômica está a cargo da revista Pesquisa FAPESP.

12 junho 2008

Oito copos de água por dia e outras lendas

Por conselho médico montei meu escritório na cama hoje. Pelo mesmo motivo também deixo alguma novidade por aqui. Sobre mitos médicos - homenagem?

Há tempos tinha isto guardado para pôr aqui, agora vai. A revista BMJ (quer dizer "British Medical Journal", mas por algum motivo eles preferem a sigla como nome da revista) publicou uma breve análise de sete mitos médicos comuns, daqueles que se ouve em botequim ou nos conselhos das mães e das avós. De acordo com os autores, na melhor das hipóteses não há nada que sustente esses mitos a não ser a crença. Vamos a eles.

Beba no mínimo oito copos de água por dia
A origem do conselho é incerta, mas uma coisa parece certa: é infundado. Os autores sugerem que juntando a água embutida na comida, mais café, chá... já basta para suprir a necessidade diária. Eu, que bebo muita água porque sinto sede constante, é que tenho que me cuidar: excesso de água pode até matar, as plantas que o digam.

Só usamos 10% do cérebro
Essa eu não sabia... Mas parece que muita gente já ganhou dinheiro prometendo desenvolver as capacidades das pessoas ampliando o uso do cérebro. Pessoas que sofreram lesões cerebrais são foco importante de estudo porque qualquer parte danificada parece afetar o comportamento ou o organismo de alguma maneira. Estudos mais precisos sobre funcionamento dos neurônios concordam: ainda não se encontrou a parte dormente do cérebro.

Cabelos e unhas continuam crescendo no túmulo
Múmias com cabeleiras e garras em saca-rolhas... o mito parece se basear na decomposição dos tecidos moles depois da morte. A pele e a carne se decompõem ou encolhem, e deixam unhas e cabelo ali onde estavam. Parecem mais longos, mas não estão crescendo. Os hormônios e maquinaria que cuidam disso já deixaram de existir.

Ler com luz fraca acaba com a visão
Esta é minha favorita, que volta e meia tenho que brigar pelo direito de ler. Ler com boa luz é certamente mais confortável, não é preciso esforço para fazer foco nem piscar mais para manter os olhos hidratados. Mas parece que o consenso atual entre oftalmologistas é que ler com pouca luz não causa danos permanentes aos olhos.

Raspar as pernas faz os pêlos crescerem mais depressa e mais grossos
Ao cortar os pêlos na base, só a parte morta é afetada. As fábricas dentro da pele ignoram totalmente o acontecido e continuam se esforçando como de costume para infernizar a vida das mulheres. O problema é que os pêlos aparados perderam a ponta afilada e por isso parecem mais grossos. Além disso, não tiveram chance de ser clareados pelo sol e parecem mais escuros.

Telefone celular em hospital é perigoso
Diversos estudos ainda não conseguiram justificar a proibição dos celulares em hospitais. Se há alguma interferência em aparelhos, ela parece ser mínima e só acontecer quando o celular está a menos de um metro. Por outro lado, a comunicação rápida e eficiente por celulares tem ajudado médicos a salvar vidas. Agora (e isto é palpite meu), se todas as pessoas ficassem tagarelando no telefone, hospitais seriam especialmente infernais...

Comer peru dá sono
Essa eu não sabia! Já tinha ouvido isso de embebedar peru para facilitar o abate, mas será que a gente se embebeda por tabela? Parece que o problema seria o triptofano, aminoácido abundante na carne de peru que entra na composição de alguns remédios para dormir. Mas segundo os autores na BMJ, carne de peru na verdade não tem mais triptofano que outras carnes. Esse mito deve ter origem nas refeições de ação de graças, a data mais festejada nas famílias norte-americanas. As pessoas comem loucamente, pratos inúmeros. Com vinho. E torta de abóbora e outras coisas de sobremesa. Depois, com as calças já desabotoadas para aliviar a pressão, põem a culpa no prato principal - o coitado do peru!

(A foto eu surrupiei daqui)

07 junho 2008

Ciência no parque


Os preços acima valem para a exposição - as palestras são gratuitas.


Continuam as palestras no parque paulistano do Ibirapuera, embora eu não tenha mais dado conta de anunciar (vou tomar vergonha na cara).
Amanhã, domingo dia 8 de junho, às 11 horas, o norte-americano Andrew Simpson falará sobre a importância da genômica para entender o câncer (veja também aqui).

As palestras de pesquisadores estrangeiros costumam ter tradução simultânea, mas esta - se nada mudou - será em português. É que o Simpson já esteve no Brasil, onde coordenou o projeto de seqüenciamento da bactéria
Xylella fastidiosa - projeto que impulsionou a genética brasileira para esferas internacionais.

A facilidade lingüística é mais um estímulo para ir lá e bater um papo científico - aberto também para leigos.


Prometi mais abaixo que escreveria sobre as palestras. Tenho anotações sobre aquelas que assisti, mas não consegui sentar para escrever. Quem estiver interessado, encontrará aqui os especiais "Revolução Genômica" que vêm saindo na Pesquisa Fapesp com textos sobre as palestras (um ou outro de minha autoria). Aqui encontrará também um resuminho de cada palestra e um trecho em vídeo.