12 fevereiro 2009

Aniversário

Hoje minha avó Marina Corimbaba Guimarães faria 109 anos. Uns 30 anos atrás, meu avô Fábio (na foto com ela) já tinha morrido e eu às vezes dormia na cama dela. Ganhava o copo de leite que ela deveria tomar e ela contava histórias (lembro da Dona Baratinha) em capítulos. E coçava minhas costas, com umas unhas longas pintadas de vermelho que faziam um barulhinho delicioso quando roçavam a pele. Ela morreu pouco depois.

"A vida dela era os outros. Por isso, sozinha desde os 17 anos, num mundo sem lugar para ela, projetou-se no trabalho, no amor, na família e em todos com que entrava em contato. Uma perfeita mulher do século XIX e, ainda assim, sem preconceitos, discriminações, distâncias", resume meu pai.

Aos 17 anos, Marina ficou órfã. Foi então trabalhar. Virou professora e tomou as rédeas da própria vida. Só conheceu meu avô quase 20 anos depois, porque foi morar numa pensão mantida pela família dele. Ela tinha 36 anos, ele 30. Se casaram e ela ainda conseguiu ter 3 filhos - sorte a minha que ainda deu tempo, meu pai é o caçula.

Determinada, ela estimulou o marido a estudar e até a fazer doutorado nos Estados Unidos. Ele acabou se tornando um geógrafo de destaque, um dos pioneiros do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (veja
aqui notícia que escrevi há uns anos).

Foi essa determinação que minha mãe usou em fevereiro de 1978, quando estava já cansada do calor da gravidez. Perguntou à sogra quando o nenê nasceria. "Amanhã", foi o veredito. Meu irmão nasceria no dia seguinte.

Minha avó materna sempre contava que Marina ensinava todas as empregadas do prédio, em Copacabana, a ler e escrever. Dizem também que havia sempre uma grande população flutuante na casa, tanto na sala (amigos diversos) e na cozinha (protegidos diversos). Minhas próprias lembranças são cenas e imagens vagas.


Hoje também seria aniversário de Charles Darwin, como qualquer pessoa que viva neste planeta internético já terá ouvido dizer. Se ele pudesse ter vivido 200 anos, hoje estaria certamente impressionado com tudo o que se aprendeu nos 150 desde que publicou A origem das espécies. Aposto como acompanharia todos os avanços e continuaria tentando sintetizar novas teorias. Faltam hoje pessoas que, como ele, tenham a paciência, a determinação e os meios para se isolar e pensar, pensar, pensar. E fazer experimentos, e escrever, e juntar pecinhas de um quebra-cabeças infinito.

Darwin e Marina são pessoas que fazem falta no mundo.

3 comentários:

Karl disse...

YO!

Revistada disse...

Trajetória linda e história maravilhosa. Realmente falta ao mundo pessoas de dedicação às ciências e ao ser humano como ser racional e emocional.

Mimirabolante disse...

incrível msm....