“A marcha dos pinguins” (Luc Jacquet, 2005): impressões sumárias
O trailer antevia uma fotografia e música impactantes. Ao longo do filme a musica infantilizada foi-se tornando entediante, assim como a narração humanizada. Tudo compensado por imagens épicas e envolventes (a estética do acasalamento pinguim é belíssima!!!), embora sem a qualidade puramente gráfica que um programa da BBC consegue actualmente oferecer.
Estava também curioso sobre como o filme justificaria a sua utilização por grupos conservadores norte-americanos para a sua argumentação puritana e falsamente naturalista. Essa utilização parece-me agora completamente despropositada. Duas observações apenas, estimulando a reflexão:
1. qual seria a vantagem de um pinguim ter mais de um parceiro de acasalamento, tendo em conta o esforço e perseverança necessários à sobrevivência de apenas uma cria? O comportamento do pinguim, e também a sua “ética”, derivam da combinação das suas limitações biológicas com as circunstancias ecológicas em que sobrevive.
2. como é admirável o grau relativo de desadaptação (reparem-se nas dificuldades motoras dos pinguins ao tranferir a guarda de um ovo precioso!) do pinguim ao seu habitat natural, apenas compensado pelo seu comportamento abnegado! Porque teria tido o eventual deus criador tanta dificuldade em dotar os pinguins de melhores capacidades motoras? A beleza do pinguim está nisso mesmo, nessa imperfeição, nessa realidade complexa, mas parcialmente redutível, ao contrário do que apregoam os defensores do “design inteligente”. É resultado de evolução biológica, dos seus limites e caminhos moldados pela ecologia do possível, num jogo de determinismos aleatórios.
1 comentário:
Discordo sobre a deficiência estética. Talvez o diretor pudesse confirmar que de fato teve recursos limitados em relação a uma BBC da vida, mas acho mesmo que o filme a estética que queria. É como essas animações mais recentes, tão "perfeitas" que não parecem mais animação. É a nova onda, perfeição tecnológica. Podem me chamar de careta, mas não é minha praia.
E podíamos usar os pingüins, me ocorre lendo o texto deste blogue, para exaltar a humanidade: assim como essas aves antárticas, nossa beleza está na nossa imperfeição! Continua não tendo nada a ver, os bichinhos não estão nem aí pra gente, mas tem mais a ver do que usá-los em defesa da monogamia.
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