Prêmios para publicar na Nature
Na edição da Nature desta semana vem uma nota fascinante sobre uma prática em crescimento em alguns países asiáticos: prêmios em dinheiro para quem publica nas revistas mais cotadas, como a Science e a própria Nature.
Segundo o artigo, a partir do fim deste mês pesquisadores sul-coreanos receberão um bônus de 3 mil dólares para cada artigo publicado em periódicos de elite. Na China, esse valor pode chegar a dez vezes mais. No Paquistão pesquisadores podem receber entre mil e 20 mil dólares, de acordo com o fator de impacto acumulado em um ano para suas publicações.
Alguns defendem a iniciativa, que seria uma forma de premiar a excelência acadêmica. Mas de forma geral a Nature apresenta argumentos contrários à prática, que estimula a competitividade acirrada e a busca por publicar a qualquer preço, e deixam a ética científica e acadêmica de lado.
Será que isso pode levar à publicação de ciência de pior qualidade? Com certeza vai exigir ainda mais dos revisores, para impedir que aconteça.
Não posso deixar de lembrar do texto da Suzana aqui neste blogue, no dia 13 de fevereiro deste ano: "Seleção natural no meio acadêmico: que vença o pior?". É o caso de parar e pensar...
3 comentários:
Ok, ok, também sou contra, mas bem que eu gostaria de ganhar uns 3 mil (ou trinta mil?) dolares por algum paper.
Agora, os jogadores de futebol ganham premios quando marcam gol, nem que seja um aumento de salario. Isso faz com que eles percam o amor ao futebol e tudo vire um comercio? Talvez. Mas se é assim, então porque estamos todos assistindo a tal copa do mundo???
vai ver a gente assiste a copa do mundo pelo mesmo motivo por que lê a nature (e costumo me irritar com a nature ainda mais do que com o mercantilismo do futebol).
idealista que sou, eu gostaria muito que os jogadores "nascessem" num time e ficassem lá por amor, que seleções não fizessem greve em plena copa porque não estão sendo gratificados que chegue... mas ainda assim, é onde está o melhor futebol, fazer o quê...
prêmio vinculado à obtenção de resultados lembra mais um estilo de empresa, talvez por isso cause estranheza ao meio acadêmico, visto como mais ideológico, onde ganhar dinheiro é visto como secundário... (para dizer o mínimo) o importante é contribuir na produção de conhecimento científico para a humanidade, não é? Também me formei nesta cultura, mas tento enxergar as razões de propostas como esta, e pensar "na contra-mão" do meu impulso inicial (que no caso é como o do Osame: sou contra), para não deixar que um pre-conceito reduza as chances de apoiar alguma boa idéia. Afinal, porque ser contra um sistema que traz recurso para a pesquisa e o pesquisador? Se estamos sempre tentando nos fazer ouvir quando o assunto é verba para a ciência? Mas são só perguntas... eu mesmo não tenho respostas absolutas para elas, fica mais a reflexão... estou lendo aquele livro "Freakonomics" e acho interessante como evitar a ótica "vigente", do senso comum, pode revelar como um determinado incentivo gera resultados absolutamente diversos (se não contrários) da expectativa original... neste caso, esta discussão ganha mais esta dimensão: como minimizar a possibilidade de fraudes ao sistema (publicações fraudulentas, autorias indevidas, formação de pesquisadores deficiente, etc.) associadas ao interesse em obter tal premiação? Além disso, porque premiar apenas as publicações na Nature ou Science? Se o objetivo é aumentar a produção científica de alto impacto de um país, será que premiar bons trabalhos, mesmo que em outras revistas, não contribuiria indiretamente para alcançar este resultado, construindo degraus "em direção à" publicações com maior índice de impacto? Enfim, talvez a discussão seja mais algo como: todo incentivo à pesquisa (= prod. científica) é válido, mas se a verba é limitada, escolher onde investir este recurso torna-se crítico, principalmente se o resultado esperado está sujeito a distorções sérias... vale a pena arriscar, bem ao estilo “pagar para ver”?!
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