06 junho 2006

Arca de Noé anfíbia


Uma nota rapidinha, li uma matéria no New York Times que não resisto a comentar.

O fungo quitrídio, ou Batrachochytrium dendrobatidis, vem causando rebuliço na comunidade sapófila (escrevi uma notícia sobre o assunto para a ComCiência em fevereiro, veja aqui). O fungo causa a quitridiomicose, que ataca regiões queratinizadas. Em adultos se aloja na pele, em girinos destrói os dentículos, que são estruturas de queratina.

Estudos na América Central mostram um cenário aterrador, as descrições parecem filme de terror. O quitrídio avança ao longo da cadeia montanhosa centroamericana, deixando atrás de si um tapete de sapos mortos. Espécies endêmicas, ou únicas daquela região, parecem correr sérios riscos de serem varridas da face da Terra.

Agora pesquisadores norte-americanos resolveram agir, e é o que conta a matéria do New York Times de hoje. Encheram suas malas de sapos, e embarcaram para os Estados Unidos. A reportagem descreve uma ação de resgate de emergência, sem grandes discussões de como esses bichos serão mantidos e qual o futuro que lhes aguarda. Vão construir um Panamá em miniatura em algum zoológico, e daqui a décadas compraremos passagens para Atlanta quando quisermos ver o paraíso tropical panamenho?

A questão é polêmica, vou deixá-la para especialistas.

P.S. O quitrídio já foi detectado em vários pontos do Brasil, mas até agora não há sombra da letalidade que causa em outros lugares.

6 comentários:

João Alexandrino disse...

Comentário paranóico-conspiratório! Depois de lançar o pânico entre as freiras, abrem-se as portas do convento, que é prontamente saqueado com a anuência das vítimas. Clássico!!!

Maria Guimarães disse...

ei, assim não vale!
diz o que acha, em vez de só criticar.

João Alexandrino disse...

ei, o meu comentário foi paranóico-conspiratório relativamente à operação arca de noé anfíbia! e as as freiras são as autoridades panamenhas!

via gene disse...

Se o tal fungo estivesse causando estrago nos EUA (e SE os EUA tivessem essa diversidade/endemismo de espécies), o pessoal já estaria desvendando o genoma do fungo e publicando-o em Nature/Science (para alimentar um pouco mais a "paranóia" do João comentada em "post" anterior :)). Discordância: acho que, hoje em dia, freiras são mais bem-informadas e melhores "guardiãs" de bens sagrados do que autoridades governamentais da América Central (iria incluir o Brasil... mas como agora a moda é "ostentar" nossa eficiência na prisão de cientistas e/ou contrabandistas/piratas da biodiversidade nacional, deixei o Brasil de fora. E aposto que somos "freiras menos ingênuas"). Não sei quanto às freiras enclausuradas (existe isso mesmo?), mas aquelas da Pastoral da Terra, entre outras pastorais e movimentos militantes, receberiam essas "iniciativas" estrangeiras com pedras nas mãos... ou será que estou enganada (ao menos tenho uma tia "engajada" e freira que tende mais para este cenário :))?
abraços,
anaclaudia

Anónimo disse...

Como sempre os norte-americanos acham que vão salvar o mundo. Ao invés de investirem em pesquisa, mesmo que fosse do genoma do fungo, para ser desenvolvida in locu, acham que levando para seu território tudo estará são e salvo (na verdade com a tentativa de reproduzí-los em cativeiro). A comunicadade de herpetólogos tinha que se mobilizar, afinal as malas estão cheias de sapos, mas sem seu nicho... poderia ser tão grave quanto o próprio fungo. Mas será mesmo que as autoridades panamenhas não estão nem aí? O que dizem os jornais locais? De qualquer forma, a matéria do NYTimes, deixa a desejar quando omite os questionamentos sobre a validade deste procedimento, talvez crendo que, por serem cientistas e norte-americanos, não são passíveis de crítica...

Anónimo disse...

Felipe Toledo:

Acho que pode ser válida a iniciativa gringa, não tenho detalhes, mas de qualquer forma é uma das opções que temos para tratar o problema... mesmo que seja na terra do Tio Sam!