18 setembro 2006

As cidades do século XXI

Faz um tempo escrevi sobre transporte sustentável, o que causou uma discussão acalorada com o João Carlos do "Chi vó, non pó".

Estou de férias (daí o sumiço, mas voltaremos), e pelo visto o assunto está muito em pauta aqui na Europa. Fica aqui só um comentariozinho.

Paris está toda em obras. Grande parte delas visa aumentar a área para pedestres em detrimento das ruas, num conceito similar ao defendido por Enrique Peñalosa para Bogotá. Para desespero dos motoristas - o trânsito não está fácil, mesmo. Foram instaladas ciclovias em alguns eixos da cidade, tenho amigos que fazem praticamente tudo de bicicleta. Áreas verdes, corredores de ônibus e um bonde fazem parte do grande projeto de reurbanização.

Li que nos próximos meses 500 voluntários parisienses serão divididos em grupos de trabalho para discutir opções de sustentabilidade para a cidade. Envolve transporte, moradia, uso de energia, reciclagem e tratamento do lixo. No início do ano que vem as propostas surgidas desses fóruns de cidadãos serão analisadas e integradas no plano de ação.

Portugal está estudando formas de impor custos maiores ao uso de carros particulares. Se houver mais pedágios urbanos ou impostos, o deslocamento individual deve tornar-se mais comedido.

O João Carlos achou que eu estava sendo maniqueísta quando escrevi sobre isso, e essas medidas podem parecer autoritárias e inviáveis. Eu mesma tenho um carro e muitas vezes ando nele sozinha. Mas acredito que inviável mesmo é o imenso desperdício (o que é diferente de uso, necessidade) de energia e recursos por parte de cada um de nós. A modernidade possibilita a individualização, que por sua vez virá a tornar nossa vida neste planeta insustentável.

Não sei qual é a solução, mas vou ficar de olho nessas iniciativas. Com certeza haverá algo a aprender com as experiências dos outros países.

5 comentários:

João Carlos disse...

Minha Querida Maria,

Eu já disse antes, e repito agora, que sou inteiramente favorável à predominância do transporte coletivo sobre o individual. O grande problema é que - a título de "solucionar o problema" - as "otoridades" normalmente começam por infernizar a vida dos motoristas, em vez de começarem oferencendo transporte coletivo de boa qualidade.

Do seu post: «Para desespero dos motoristas - o trânsito não está fácil, mesmo.» Isso me lembra o grande problema do socialismo: implantar a ditadura do proletariado é até bem simples. Passar aos estágios seguintes é que ninguém, até agora, conseguiu. Por que? Porque é fácil "tirar de quem tem". Mas na hora do "produzir o necessário e distribuí-lo eficientemente", a coisa pega...

Hoje eu estive, pela terceira semana seguinte, em um prédio de consultórios médicos, no mesmo 3º aandar. E o banheiro continuava com um cartazinho, colado com fita, "Com Defeito"... Eu não me aguentei: peguei uma folha de papel, uma caneta vermelha, fita adesiva e colei embaixo um cartaz, dizendo: "Então consertem logo, pombas!"

Eu costumava fazer gozação com um tio de minha mulher, que trabalhava no Metro do Rio, dizendo que, quando ficasse pronto, o Metro iria solucionar todos os problemas de trânsito: pelo simples fato de tampar os buracos e desinterditar as ruas...

Eu acho profundamente injusto e imoral prejudicar quem quer que seja, sob o pretexto do "bem coletivo". Na maior parte das vezes, fica só o prejuízo (como a malfadada CPMF que o infeliz do Jatene criou para financiar temporariamente a Saúde, e hoje ninguém consegue se livrar dela... e a saúde continua uma porcaria).

Há de existir uma solução menos cretina para o problema.

Anónimo disse...

o transporte colectivo é muito bonito mas não é comodo , nem barato e por vezes não serve as nossas necessidades ( sitios onde nos queremos deslocar) .
Eu acho que seria optimo os governos apostarem em alternativas aos combustiveis derivados do crude .

gostei do seu blog vou por um link no meu

João Carlos disse...

Aproveitando para dar outro exemplo: quando preciso ir de Araruama ao Rio de Janeiro, eu vou de ônibus. Gasto cerca de R$ 30,00 - ida e volta. Quando vamos eu e minha mulher, o preço da passagem (R$ 60,00) paga os custos do combustível (GNV) e do estacionamento, sem contar que o bagageiro do meu carro é bem maior e o estacionamento fica ao lado da casa de minha sogra, não uma rodoviária no extremo Norte do Centro do Rio, sem um pingo de segurança e onde se paga uma fortuna por uma garrafinha de água mineral...

Ah, sim!... O bairro onde moro em Araruama é servido por exatos quatro ônibus diários. De minha casa ao Centro, o ônibus (cujo itinerário foi desenhado por Fernão de Magalhães), leva quase uma hora. De carro, eu chego em cinco minutos. Agora, imagine quem mora na Barra da Tijuca e trabalha no Centro do Rio (sabe que a distância-tempo é igual à de Araruama-Centro do Rio?...)

Miha última comissão na ativa foi na mal-afamada Ilha das Flores (São Gonçalo, RJ). Eu morava em Laranjeiras... De carro, uma boa meia-hora (se a Ponte Rio-Niterói estivesse desimpedida). De ônibus, um para o Centro do Rio, outro para São Gonçalo e sete km a pé (debaixo de chuva ou sol) até meu quartel... cerca de três horas de deslocamento.

Acresça a isso a falta de segurança nos transportes coletivos, a incoveniência deles nos horários de pico e a falta de conforto (mencionada acima por quarkup).

Por isso tudo, eu acho que os governantes deveriam primeiro se preocupar com o serviço público, para depois restringirem o transporte particular.

Mas - sabe por que não o fazem? Porque a "indústria de multas, pedágios e impostos" rende bom dinheiro que terá os fins mais variados. Se a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança fosse uma real preocupação com o cidadão (não uma armação do lobby das seguradoras), seria proibido transportar passageiros em pé nos coletivos.

"Chi vó, non pó..."

Maria Guimarães disse...

concordo. por isso paris é bom exemplo - se vai a qualquer lugar de transporte público. muitas vezes é mais fácil e rápido ir de metrô do que de carro. mas mesmo assim muita gente prefere o conforto (enganoso?) de estar em seu próprio carro.
portugal não chega ainda a tanto, mas algumas cidades (como Porto) têm investido muito em transporte público.
Estimular as pessoas a utilizá-los tem que vir só depois, mas é necessário.

João Carlos disse...

concordo. por isso paris é bom exemplo - se vai a qualquer lugar de transporte público. muitas vezes é mais fácil e rápido ir de metrô do que de carro. mas mesmo assim muita gente prefere o conforto (enganoso?) de estar em seu próprio carro.

Questão de status, provavelmente... Eu jamais vou ao Centro do Rio de Janeiro de carro (ainda não inventaram um que se possa dobrar e por no bolso...) Um carro particular no Centro das grandes conurbações é meio como os braços, na hora de dormir - quando você está acordada, são utiíssimos - mas na hora de dormir são um estorvo...

Daí aquela minha idéia de que os bairros residenciais deveriam ter amplos estacionamentos, junto a centros de embarque-desembarque de sistemas (realmente eficazes e confortáveis) de transporte coletivo.

Aí, surge uma pergunta: "taxis" são "transporte coletivo"? Sua circulação nos grandes centros urbanos deveria ser permitida? Ou nesses locais só deveria ser permitida a circulação de taxis com motores elétricos? (Se bem que a geração de energia elétrica é uma das principais fontes de emissão de poluentes...)