21 outubro 2006

Arte e ciência na roda

Este texto faz parte da discussão de outubro na Roda de ciência: a relação entre ciência e arte.

Entre as muitas abordagens possíveis, acabei chegando ao que busco no meu caminho profissional: falar de ciência com arte, e quem sabe até mesmo falar de arte com ciência.

Me lembrei de um dia de trabalho de campo, quando eu era bióloga em tempo integral. Estava na Patagônia, andando de um lado para o outro com uma antena que captava sinais de coleirinhas instaladas em tuco-tucos - uns roedores subterrâneos de charme inigualável. De vez em quando um deles espiava para fora da toca, dava um grito pra me avisar que estavam de olho em mim. Aquela paisagem fantástica, os bichos que rondavam - lebres, cavalos, guanacos, raposas... e eu ali tentando entender a relação dos tuco-tucos com a natureza. Me ocorreu que o que me fazia ser bióloga era a poesia embutida na vida. Descobri que vinha daí uma certa sensação de peixe fora d'água, não chega a ser um motivo muito acadêmico pra se fazer ciência. Acho que começou aí a estrada que me fez continuar perto da biologia, mas olhando de fora o fazer científico.

Li um texto que adorei na revista piauí, cujo primeiro número está nas bancas. Se chama "A primeira menina do mundo" e conta a história de Salem, que morreu aos três anos de idade há mais de 3 milhões de anos, e teve seu esqueleto encontrado recentemente. O texto é literário. E o texto é científico. É saboroso, conta como se fosse ficção. Mas está tudo ali, todo o contexto e significado científico da descoberta. Fiquei extasiada, pensando que é por aí que quero caminhar.

Não é caminho fácil. Quando me embrenho num assunto científico, volta e meia o texto fica seco e acadêmico. E se tento fugir disso, tem logo ali o precipício da imprecisão. Não é fácil. Mas é delicioso.


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