01 novembro 2006

1421

Finalmente foi publicado no Brasil o livro 1421 – O ano em que a China descobriu o mundo (Ed. Bertrand Brasil). Da autoria de um oficial reformado da marinha britânica, Gavin Menzies, a obra revoluciona o que se pensava saber sobre as viagens marítimas do séc XV. Para aguçar o apetite basta dizer que talvez não tenha sido james Cook o primeiro a chegar até à Austrália, nem Pedro Álvares Cabral o primeiro a navegar até ao Brasil e muito menos Colombo até...onde mesmo? É muito provável que os chineses tenham chegado primeiro, nas suas viagens de exploração e descoberta ao redor do mundo, entre 1421 e 1423. A Revista Época poupa-me o trabalho de vos contar mais detalhes da investigação detetivesca de Gavin Menzies, publicando este mês uma excelente matéria sobre o livro que pode ser lida aqui.

Já tinha lido o livro há algum tempo, na sua edição lusitana (Dom Quixote, 2004) e é pena que apenas agora esteja disponível no Brasil, sendo o tema relevante para a sua história. O livro poderá ser polémico, mas com certeza fascinante. No final, aceitando a hipótese de 1421, fica a pergunta de como o mundo teria sido diferente se a China não tivesse resolvido abandonar as Viagens devido a várias fatalidades que atingiram o império logo após a armada ter zarpado.

É que a China do então imperador Zhu Di não parecia ter intenção de colonizar, o seu fim era o conhecimento do mundo à sua volta e o estabelecimento de uma rede de comércio mundial mais ou menos “livre”. Pois eu diria que já vamos com quase seis séculos de atraso!

14 comentários:

Daniel Doro Ferrante disse...

[N.B.: Estou sem acentos por causa duns problemas com a biblioteca Qt e os 'locales'...]



Oi Joao,

Eu nao sei quanto `a Cook ou Cabral... mas, certamente Colombo foi precedido pelos Vikings: ha "settlements" no Canada de muito antes de Colombo (agora eu fiz o favor de esquecer as datas, mas e possivel que um Google resolva o problema ;-).



[]'s.

João Alexandrino disse...

Olá Daniel,
tens toda a razão. Os vikings, e também os bascos, rumavam regularmente à Terra Nova para se abastecerem de pescado, principalmente bacalhau. "Reza a história" que quando barcos da marinha britânica chegaram pela primeira vez àquelas paragens, terão encontrado "mais de mil barcos de pesca bascos"!!! Li sobre isso pela primeira vez no excelente livro de Mark Kurlansky "Cod". O curioso é que que nem os vikings, bascos ou chineses mostraram ensejo de colonizar as terras visitadas, o seu fim era o comércio. Aí vieram os colonizadores... E assim continuamos com séculos de atraso para chegar ao mundo idealizado de trocas culturais e comerciais "livres".Abs.

Caio de Gaia disse...

Tss, tss a promover pseudociência e crackpots. Trata-se de um disparate muito grande. Lamento muito mas não podia deixar isto em claro, não leves a mal.

Para uma análise crítica desta coisa
The 1421 myth exposed

Mesmo que não conhecessa a história, a matéria da Época é suficiente para caracterizar o senhor. O que salta mais à vista como impossibilidade é a tal coisa de uns poucos chineses numa visita breve deixarem evidência nos genes das populações sul americanas. Nem me vou referir às técnicas agrícolas que os índios, com milhares de anos de experiência nessa actividade, adoptariam dos chineses, que mais uma vez eram em número reduzido, não ficaram muito tempo, e não sei até que ponto perceberiam de agricultura.

Mas o melhor é essa ideia de que andaríamos todos aos beijos e abraços num mundo de paz e prosperidade. Mesmo admitindo que os chineses respeitavam de tal forma os "povos bárbaros e inferiores" há um problema. Se os exploradores chineses iam a toda a parte também acabariam por ir dar à Europa. Aí a história repetia-se. Bastava aparecer um junco em Lisboa e semanas ou meses depois lá estariam os portugueses no Brasil ou às portas da própria China.

Caio de Gaia disse...

Já que estou com a mão na massa...

Os vikings colonizaram as terras que visitaram, com explorações agrícolas, igrejas e mesmo mosteiros. Aliás a Gronelândia ficava sob uma forte alçada da Igreja. Não só na América, a Normandia e boa parte das Ilhas Britânicas eram colónias vikings. Uma das razões pelas quais a colonização da América terá falhado é porque os vikings preferiam saquear o litoral e as margens dos grandes rios europeus. Não eram de maneira nenhuma um exemplo de fraternidade e amor pelo próximo: em França eram conhecidos como o "flagelo de Deus". Se tivessem chegado ao México não teriam feito nada de muito diferente do que os espanhóis fizeram.

João Alexandrino disse...
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João Alexandrino disse...

Olá Caio, já conhecia esse site que referes mas achei-o bastante pobre, nada comparado ao livro.

Sim, a pseudo-ciência de todas as "ciências" históricas tal como pensadas por Isaiah Berlin.

Quanto à visita breve dos chineses, é melhor leres o livro (não percebi se leste ou não!?).

Sim, os vikings também colonizaram e saquearam mas a discussão não é inteiramente relevante pois os vikings nunca mostraram ensejo ou capacidade de expandirem muito o seu império do norte.

A questão interessante não é a de que os chineses também não expandiram o seu império, como os vikings. A questão é que os chineses talvez mantivessem relações de trocas comerciais e tecnológicas com países vizinhos da costa do Índico, muito diversas daquelas que os bárbaros do norte e outros europeus mantiveram e "mantêm" com os seus colonizados. E isso permitiria prever que os chineses pudessem fazer o mesmo numa escala global. Mas é claro que tudo isto é ficção condicional com base em pseudo-ciência.

Finalmente, poderíamos ficar toda uma vida a discutir se o mundo teria sido diferente com um império marítimo chinês. Não sei, e nunca o saberemos.

Espero que o próximo império comercial chinês seja tão benévolo quanto este que o livro me sugeriu. Mas duvido.

Abs.

Caio de Gaia disse...

Li o livro (de um amigo, não comprei). É uma história de ficção, cheia de erros de facto e de contradições, nenhuma evidência séria. Tem tanto de verdade histórica como o Código Da Vinci.

Mas se acha que sou demasiado severo na minha avaliação, empreste a um historiador e observe a reacção.

Caio de Gaia disse...

João, já agora não quero que fique com a impressão de se trata apenas de comentários devidos ao meu mau-feitio (que é um facto).

Eu apenas quis alertar para o facto de as evidências do autor serem todas circunstanciais e num dos casos tudo leva a crer serem mesmo forjadas (o mapa). Eu estava na China quando este mapa de 1763 supostamente uma cópia de um mapa de 1418 apareceu nos meios de comunicação. Foi nessa altura que li o livro.

João Alexandrino disse...

Ok Caio, então com certeza leste que o autor põe a hipótese de alguns colonos chineses se terem estabelecido nas terras visitadas. Quanto às evidências genéticas, é possível que existam (lista de referências no site de 1421), mas não me debrucei seriamente sobre o assunto. Agora, não vi ainda uma análise séria contrária à hipótese do livro. Todos sabemos que a história escrita é sempre uma depuração da realidade. Depende sempre de quem a escreve, e o fim a que se destina, tal como a Bíblia (e não é preciso nenhum Dan Brown para concluir isso). Enquanto não ler essa análise exaustiva, a hipótese de 1421 ficará como uma possibilidade interessante, que me satisfaz particularmente por quebrar um pouco do eurocentrismo vigente. Ab.

Caio de Gaia disse...

Os maoris não acham piada às evidências genéticas. Segundo o livro eles descendem de colonos chineses e concubinas polinésias.

Mas eu talvez tenha má vontade porque se está a subsituir um mito (superioridade europeia) por outro (bondade das outras culturas). Se bem que não deixem de ter alguma razão. Quando eu estava na China passou por lá o dirigente da Malásia e no único canal que eu percebia (língua inglesa) ouvi dizer algo como isto:

"É um prazer estar aqui na China, um país com o qual temos relações milenares e sempre pacíficas. Ao contrário dos portugueses, que assim que chegaram à Malásia desataram logo a invadir tudo o que podiam."

João Alexandrino disse...

É Caio, espero que a China seja fiel, no futuro, a essa sua herança milenar.

Caio de Gaia disse...

Há uma coisinha chamada Tibete...

Anónimo disse...

O livro inteiro é um lixo não tem uma única prova documental que resista. É confuso, cheio de contradições foi ajustado nos erros mais graves nas edições posteriores, fala um monte de bobagens nas remotas associações linguísticas, genéticas, cartograficas, geológicas. Não tem uma única prova de apoio. É lamentável que vamso ter de gastar um tempo enorme esclarecendo tanta bobagem claramente mal intencionada já que o que conta é vender, vender!

Anónimo disse...

Pois é, mas algum fundo de verdade este livro tem, apesar do mau humor de alguns de vocês, aliás, vocês conhecem aquela piada do português que ......