05 maio 2007

O que são raças?

Falar em raças humanas arrepia a gente. Lembra racismo, eugenia, discriminação, desigualdade social. Daí a necessidade de organizar o pensamento. A meu ver racismo e raça são duas discussões diferentes. Neste caso, se existem raças, é uma questão biológica e não social.

Li recentemente um artigo de Sérgio Pena, da UFMG, e Maria Cátira Bortolini, da UFRGS, ambos geneticistas. Eles apresentam uma análise genética muito interessante da população brasileira, um amálgama de origens africanas, européias e indígenas. Mas discordo de vários aspectos e um deles é a ausência de definição de raças.

Uma fonte de confusão é a dificuldade em distinguir aspectos biológicos e sociológicos. Não é a biologia, mas as oportunidades sociais, que fazem com que poucos negros cheguem ao topo da escala social brasileira. Isso diz muito sobre injustiça social, mas nada sobre a existência de raças.

O artigo dos geneticistas mostra que é possível distinguir geneticamente grupos continentais - africanos, europeus e ameríndios, no caso. Para mim, essas são as raças. O brasileiro é uma mistura, tudo bem, mas isso não prova a inexistência dessas raças originais.

É comum o argumento de que são poucos os genes responsáveis pela cor da pele, portanto desimportantes. Desimportantes por quê? São responsáveis por características que se diferenciaram nos grupos continentais devido a pressões ambientais diversas ao longo do processo evolutivo. São desimportantes sim em conferir mais ou menos valor às pessoas, mas aí entramos no âmbito social.

A edição de abril da revista Pesquisa Fapesp veio recheada com raças, do ponto de vista biológico e social. Muito do que acho sobre o assunto já escrevi neste mesmo blogue, não repetirei. De lá para cá, pouco mudou no meu pensamento. Mas li mais e vi a palestra do Sérgio Pena, e aprendi uma coisa: no Brasil já não faz sentido falar em raças. Mesmo do ponto de vista médico, que em muitos casos deve levar em conta diferenças genéticas pois geram fisiologias distintas, neste país a miscigenação já não permite associar aparência física a características genéticas.

Mas mais uma vez, isso não quer dizer que raças não existam! Eu acho que existem e ainda bem.


Este texto integra a discussão de maio do roda de ciência.
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