15 junho 2008

Dançarinos emplumados

Graças ao biólogo Mercival Francisco, da Universidade Federal de São Carlos em Sorocaba, e seu aluno Juninho, pude me meter no mato atrás dos discretos e esplêndidos tangarás-dançarinos.

Durante o doutorado me encantei com outra espécie de tangará, que minha amiga e colega Emily estudava no Panamá. Foram muitos os cafés que tomamos em que ela me relatava as coreografias dos passarinhos, muitas visitas à sala dela em que admirei fotos e vídeos.

Estes daqui dançam com mais espetáculo - até oito machos coordenados para atrair uma fêmea. Mas têm uma deficiência, a meu ver: os panamenhos têm pernas cor-de-laranja que acho um luxo.

Na viagem ao Parque Estadual Carlos Botelho (que vale a visita, muitos bichos numa bela mata) em busca de fotografar a dança dos tangarás, eles nos driblaram. Enquanto esse macho da foto comia perto de mim (para me distrair?), eu ouvia a vocalização típica da dança acontecendo ali perto. Não consegui ver.

Mas se quiser ver o bichinho de frente, mais o texto completo que está na edição de Pesquisa Fapesp agora nas bancas, e mais um vídeo da dança, olhe aqui.

3 comentários:

João Carlos disse...

Muito interessante a "dança" dos tangarás!... No artigo que acompanha o vídeo, vem a inevitável pergunta: "e o que os 'figurantes' ganham com isso?"

Isso me lembrou um outro tipo de animal, o lobo (mais exatamente as lobas) que têm uma particularidade: só a fêmea "alfa" tem direito a parir ninhadas. Mas todas as lobas são extremamente "maternais" com os filhotes.

São essas "sofisticações" no comportamento de espécies com "inteligência" muito limitada que me levam a pensar que superestimamos demais nosso "discernimento humano"...

Maria Guimarães disse...

pois é, foi exatamente esse o tema que motivou meu doutorado. li muito sobre o assunto, agora peno pra me manter mais ou menos a par dos avanços.
o essencial é que não se trata aí de inteligência, mas de evolução. muito do que acontece nessas sociedades não é voluntário - mais para instintivo. e pesquisadores penam para explicar quais são os mecanismos que regulam comportamentos complexos.
quando não há espaço para todos se reproduzirem, por um ou outro motivo, a seleção natural cria mecanismos para restringir a reprodução. e quando a mãe não basta para cuidar dos filhotes, as espécies onde não evoluiu alguma forma de socialidade acabaram extintas.

João Carlos disse...

quando não há espaço para todos se reproduzirem, por um ou outro motivo, a seleção natural cria mecanismos para restringir a reprodução.

É exatamente isso que me assusta quanto à espécie humana!... Nenhum outro animal trata doenças (os com alguma imunidade natural sobrevivem, ou a espécie se extingue...) Nenhum outro "leva consigo seu ambiente" (ou se adapta, como os pingüins das Galápagos, ou...

É perfeitamente possível encontrar "rituais" como esses dos animais nas culturas humanas primitivas. Mas a sociedade dos telefones celulares e ar condicionado se transformou até mesmo em uma ameaça aos humanos que ainda vivem na "idade da pedra" (vide as tribos isoladas na Amazônia que causaram tanto sucesso na mídia...)

Quem sabe o Rogério não teria uma boa explicação psicanalítica para nos mostrar onde nosso comportamento "sofisticado" não passa de "racionalização" para algo puramente instintivo?... :D