12 março 2006

Comentários no blog “Ciência em Dia”

Sobre o texto Pílulas deterministas do Dr. Collins (9/3/2006). Ver outros comentários no link do texto.

Sem dúvida que existe um mercado de propaganda científica, principalmente na biotecnologia! É natural num meio científico de elevado impacto social. De certa forma, a propaganda dos benefícios potenciais da biotecnologia serve de cenoura para que a sociedade galope atrás de projetos como o do Genoma Humano. Mas se o Homem não seguisse as "cenouras" que têm iluminado o seu caminho para fora da caverna, ainda hoje lá estaria, amedrontado. A melhor forma de evitar o fatalismo da existência humana é uma boa dose de determinismo. Nesse sentido, a negação do determinismo é inimiga do livre arbítrio. O conhecimento assente no determinismo esbarra na complexidade, o não quer dizer que determinado fenómeno não tenha causas. É buscando causas e seus efeitos que aprendemos a ser mais Humanos, na nossa capacidade de prever e fazer opções. A opção pode ser a "errada", mas tudo é melhor do que viver na escuridão de uma caverna. Até para a Dona Maria, pode-lhe perguntar!
Abraços livres.

Osame, a tendência para uma visão determinista do mundo parece-me uma excelente estratégia evolutiva de aumentar a probabilidade de sobrevivência no mundo biológico. Numa primeira fase ela permitiria aos organismos tomar determinadas decisões sobre o seu futuro com base em estímulos sensoriais. Se se aceitar isto como um proto-determinismo, então talvez exista alguma tendência inata para o determinismo. No Homem, a tendência aumentaria associada à capacidade tecnológica, conduzindo ao mecanicismo em detrimento da metafísica. Determinismos serão tanto mais possíveis quanto mais simples forem os sistemas alvo. Em sistemas complexos, resta-nos tentar quantificar o grau de incerteza que decorre do nível de conhecimento. A capacidade de observar e analisar adequadamente sistemas complexos está ainda na sua infância. Estou plenamente convicto que o avanço do conhecimento se dará no sentido de permitir um conhecimento cada vez mais mecanicista de sistemas complexos, incluindo sistemas genéticos que determinam uma variedade de fenótipos. É mais perigoso negar este futuro do que começar a prever e discutir as suas implicações nas sociedades contemporâneas. E acima de tudo, ter esperança que esse futuro chegue apenas quando tivermos um mundo globalmente composto por democracias de cidadãos informados!


Marcelo, a discussão do determinismo genético simplista do século XX não faz hoje sentido, é um anacronismo. Depois de milénios de evolução biológica e tecnológica, a espécie humana persegue o controle biotecnológico dos processos evolução. Para si própria, talvez espere a libertação das limitações biológicas à verdadeira Humanidade(?). Lembro-me sempre que as unidades da história evolutiva são as espécies, os indivíduos são meros replicadores, aos quais os humanos dão (e se dão) demasiada importância. Por isso, não dê assim tanta importância a tantos e tão poucos humildes replicadores que o acompanham neste seu blog.
Abraços de Thistledown.

Já agora, clarifico, minha agenda política poderia ser definida como a libertação do Homem de todo e qualquer espartilho, inclusive a mim dos meus próprios. Não que eu preveja ter alguma relevância para essa causa, mas se surgir uma oportunidade estarei na linha da frente. O objectivo seria permitir o livre arbítrio em sociedades de indivíduos livres pela veiculação igualmente livre da INFORMAÇÃO/CONHECIMENTO! Banal? A questão é que só será possível se se criar um sistema neutro e hierarquicamente estruturado, em graus de inteligibilidade pelo cidadão, de veiculação da informação/conhecimento. Reparem que esta é muito diferente da informação/notícia, pelo que penso que a imprensa contemporânea não será capaz de cumprir a tarefa. Falo claro de uma biblioteca universal (não a da IURD). Afinal, sempre me senti um alexandrino (também o de Alexandre Durrell, pois a metafísica também é uma paixão).

Abraços politizados.

Marcelo, divirto-me muito mais quando o debate é intelectualmente sério. Enquanto a sociedade de informação que preconizo não existe, resta-me ser exigente com os profissionais que, como você, têm a responsabilidade de a veicular. Repare que, como cientista, tenho de considerar o jornalista de ciência como o meu representante (e não só do meu trabalho ou área específica!) num parlamento de cidadãos alargado. Os parlamentos de representantes eleitos não promovem hoje debate algum para além da instantaneidade eleitoral. É o grande risco para as democracias, aumentando a probabilidade do ressurgimento do autoritarismo, e em sociedades altamente biotecnológicas, do Fordismo de Huxley que você tanto teme. Eu realmente penso que a Dona Maria não nos vai perdoar, a mim como cientista, e a si, como jornalista, que não nos tenhamos esforçado por lhe entregar uma representação fiel das "verdades" disponíveis num determinado momento.
Finalmente, quanto à unidade evolutiva, a espécie como conjunto genealógico é a unica entidade/categoria evolutiva, não artificial, com propriedades emergentes (sim, tendo a concordar com Gould neste ponto) que tem condições de sobreviver ou se extinguir!. Da extinção não reza a história, em evolução lidamos com os fragmentos históricos, procurando reconstitui-la. Por isso a sobrevivência é das espécies. Agora, tudo depende da escala espaço/tempo em que estamos interessados. Podemos pensar na evolução de complexos genéticos co-adaptados como unidades evolutivas, mas eles não existem de forma independente (discordo de Dawkins, portanto). Complexos genéticos existem em indivíduos, em populações, em espécies. Mas a espécie é a unidade sintética que pode ser conceitualizada como interface biológico com o meio, ocupando seu nicho natural e construido (concordo com Lewontin, embora esteja distante das motivações marxistas de muita de sua argumentação, e da de Gould já agora). Genes, indivíduos e populações são singularidades (embora sistemas com suas leis próprias numa realidade pseudo-fractal) e contribuem para um sistema de diversificação adaptativa e não adaptativa (induzida talvez, como sugerem Jablonka&Lamb) que poderá eventualmente resultar em novas espécies. Quando saímos do conjunto genealógico, caminhando para as profundezas da árvore da vida, vai-se apagando o registo genealógico que liga, em última análise toda a biodiversidade, a extinção predomina, embora diferentes graus de (in)certeza e/ou a estética de cada um nos permitam ainda delimitar categorias de biodiversidade (Família, Ordem etc). Peço desculpa ao venerável Mayr e a outros tantos pelos quais nutro respeito e admiração, intelectuais, ao tentar pensar de forma independente!

Abraços despartilhados.

6 comentários:

Osame Kinouchi disse...

Olá,

Boa ideia blogar em grupo.
Passei por aqui e ja coloquei vcs na minha lista de Favoritos.
Tenho um texto anti-Marcelo Leite (na verdade anti Steven Rose) que talvez interesse a voces. Nao muito serio, mas meus estudantes tem elogiado. Posso mandar para vcs? Como envio?
Osame

João Alexandrino disse...

Obrigado pela visita Osame. Fico curioso com o seu texto, pode enviar para jmalexan@vivax.com.br. Mas esclareço desde já que não me considero anti-Marcelo Leite, e sim crítico de algumas ideais empedernidas por ele veiculadas.
Abraço.

Osame Kinouchi disse...

Pessoal,

O Blog de vcs me inspiurou a criar o meu, aqui mesmo no Blogspot. Mas como faço para criar aquela lista de links e colocar o Blog de vcs?
Osame

Maria Guimarães disse...

Osame,
Que bom, vamos acompanhar teu blogue.
Não descobrimos um jeito gráfico de editar os links. Tem que ir na página onde aparece a estrutura do blog, tem etiquetas no alto que dizem "postagens", "definições"... vai em "modelo". aparece tudo em código. aí tem que achar os links e inserir.

ajuda?

Anónimo disse...

This site is one of the best I have ever seen, wish I had one like this.
»

P.B.A. disse...

Caros amigos,

Parabenizo os organizadores do blog pelo iniciativa da divulga�o e discuss�o da ciencia.

Recentemente criei um blog sobre ciencias ambientais. O link esta ai em cima - P.B.A. Se puder deem uma passada e uma resposta. Quem sabe possamos colocar nossos links em nossos blogs.

Abra�o,

Daniel