Quilos a mais... e mais
Quando a balança teima lá no alto apesar de dietas de todos os tipos, pode ser o caso de recorrer a uma cirurgia de redução de estômago.
A cirurgia bariátrica é o último recurso, recomendado pelos médicos em casos de obesidade extrema que nada mais consegue combater. Muda a vida de muita gente para melhor, mas está longe de ser uma solução fácil. Em geral é preciso, na melhor das hipóteses, dar adeus ao prazer de comer.
Mas não é só. A cirurgia parece ser extremamente eficaz em eliminar o diabetes, um dos primeiros efeitos colaterais da obesidade - que muitas vezes chega a se manifestar antes mesmo que as gordurinhas se tornem muito incômodas. E nova pesquisa sugere também que pode ser o caminho para evitar o maior risco de câncer que vem junto com a obesidade.
Está na edição deste mês de Pesquisa Fapesp o texto que escrevi sobre o assunto. Matéria difícil, com tantas facetas - todas importantes. Palpites e críticas são bem-vindos, adoto como lema a frase do Carl Zimmer: espero ter acertado, presumo que errei e estou pronta para aprender pelo caminho.
A imagem é mirror ball, do Escher
8 comentários:
Maria, como obeso crônico (e cardíaco e diabético bissexto) eu me insurjo contra os ares de "panacéia" que a cirurgia bariátrica está assumindo (digo isso antes de ler o artigo).
O fato é que eu me dou conta de que pode haver um outro enfoque no combate à obesidade (inclusive a de fundo genético, como a minha).
Colocando a coisa em termos bem leigos, eu comparo o meu metabolismo a um avarento que sempre guarda metade do que ganha no cofre. Ou seja, parte do alimento ingerido é "estocado" sob a forma de gordura, haja ou não a sensação de "saciedade" (e existe uma componente psicológica nisto: situações de tensão nervosa são "interpretadas" como "provável escassez de alimento" e mais alimento vai para a "poupança").
Por outro lado, eu conheço pessoas que são quase anoréxicas, mas têm uma enorme facilidade em ganhar peso. Ou seja, mesmo acostumadas a ingerir pouco alimento (coisa que a cirurgia bariátrica faz de maneira invasiva e definitiva), o maldito metabolismo está lá, com sua "avareza", até atingir uma situação de "equilíbrio".
É uma solução extrema para casos extremos, mas eu temo que esteja sendo muito banalizada...
joão carlos, estou curiosa pela sua opinião depois de ler a matéria. tentei não banalizar.
Perdi uma excelente ocasião de ficar calado, né?... Se eu tivesse lido o artigo, veria que você aborda o assunto exatamente como uma medida de desespero, onde qualquer solução paliativa seria fatal, e comenta extensamente os inconvenientes e efeitos colaterais desagradáveis...
Uma passagem, no entanto, me deixou intrigado: Psicólogos e psiquiatras têm que trabalhar, de certa maneira, na penumbra: de acordo com Segal, não há estudos que detalhem os problemas mentais associados à obesidade e não há maneira de prever como cada paciente reagirá à cirurgia. (o grifo é meu)
Em primeiro lugar - caramba!... - por que mil raios ainda não há?... Segundo: por que o problema tem que ser, necessariamente, "mental"?... Quanto tempo ainda vamos perder dizendo que "gordo come demais" (uma tautologia que não leva a lugar algum) sem procurar entender por que esse "demais" é demais?...
O obeso aqui adoraria pensar que, mesmo depois do inferno que foi minha vida de gorducho, das quatro pontes no coração, da extração da vesícula biliar (curiosamente, desde então, eu já perdi 20 kg... não dá para notar muito em quem tinha 40 kg acima do peso... apenas meus cintos percebem), alguém vai estudar de verdade o problema da obesidade (e não ficar "vendendo dietas milagrosas") porque eu transmiti essa maldição a minha filha e ela a meu neto.
Percebe a fonte de minha reação (desmedida)?... Cirurgias bariátricas nem deviam ser necessárias!
Parabéns pela matéria, Maria.
Espero mais destas. Facilitaria muito nossa vida.
Abraço
concordo, joão carlos. mas são. em parte, suponho, porque desequilíbrios químicos (os hormonais e os que levam a problemas psiquiátricos) ainda estão longe de estar controlados. precisa ainda muita pesquisa aqui no brasil, e não se trata de incompetência.
este país é imenso e a disparidade social atrapalha grandes pesquisas médicas. não é por acaso que o maior estudo sobre efeitos da obesidade e da cirurgia seja sueco. lá a medicina é socializada, toda a população tem direito a ela. e segundo alguns médicos que entrevistei para a matéria, se o paciente não comparece para o retorno perde direito a um monte de coisas, então tem que comparecer. aqui não tem como fazer isso.
por essas e outras, é muito difícil fazer um estudo amplo que chegue para entender direitinho a relação entre distúrbios psiquiátricos - compulsão, depressão etc. - e obesidade.
acho que é por aí, alguém me ajuda?
Eu não estava particularizando o Brasil, de forma alguma!... Apesar de todas as minhas restrições à Medicina, em tanto quanto ciência, eu sou o primeiro a aplaudir nossos médicos pesquisadores que ainda conseguem fazer pesquisa séria onde falta material para curativos (e onde pessoas morrem porque um político não permitiu a internação em uma UTI - isso aconteceu na semana passada em Araruama, RJ!...)
O fato é que existe a obesidade de um lado, e também existem pessoas que comem como passarinhos (o dobro do seu peso, diariamente...) e são extremamente magras (por acaso, o amigo comum que me apresentou a minha mulher, é um caso desses). É o mesmo distúrbio metabólico, só com o sinal invertido (e ninguém classifica isso de "problema mental"). Para meu entendimento, isso significa que estão dando o enfoque errado: distúrbios mentais podem até provocar (eu diria que, meramente, agravam) esses desequilíbrios hormonais, mas não são a causa precípua.
acho que o que você está deixando de fora é que os problemas "mentais" também são químicos, sisiológicos.
Paracelso diria o mesmo e com toda a razão! :D (Embora pelos motivos errados...)
Cuidado que, daqui a pouco, aparece o Daniel e argumenta que a coisa toda é uma "quebra espontânea de simetria" causada por uma superprodução de quarks "strange" em bases puramente aleatórias!... :)
Mas eu comecei com o pé esquerdo minha argumentação. Vou ver se consigo escrever um artigo no qual minhas posições fiquem mais claras.
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