22 abril 2009

Estamos de mudança

O "Ciência e ideias" pôs a casa nas costas e se mudou. Foram três bons anos no Blogger, em que nos deleitamos contando o que nos chamava a atenção.

A vontade de falar sobre ciência, sobre outros assuntos e repartir inspirações continua e encontrou novos companheiros. Foi justamente aqui que encontramos os fundadores do Lablogatórios, que recentemente virou Science Blogs Brasil.

É lá que estaremos. Felizes por ter como vizinhos gente que compartilha esses interesses. Juntos, espero conseguirmos mostrar a cada vez mais gente - curiosos que procurem algo específico ou que simplesmente estejam de passagem e parem para dar uma espiadinha - como é fascinante o mundo da ciência. Este mundo em que vivemos.

Não custa reiterar: siga este linque e chegará à nova casa do velho Ciência e ideias.

16 abril 2009

Líquen do Obama

Caloplaca obamae é o nome do líquen ao lado (foto de J. C. Lendemer), descoberto em 2007 na ilha de Santa Rosa, na Califórnia. O descobridor, Kerry Knudsen, escolheu o nome como homenagem ao apoio do então candidato a presidente dos Estados Unidos à ciência e à educação.

Conta Knudson, curador de líquens no herbário da Universidade da Califórnia em Riverside, que descreveu a nova espécie em meio ao furor mundial que rodeava as eleições norte-americanas e terminou o rascunho final no dia da posse. O artigo está na edição de março da revista Opuscula Philolichenum.

C. obamae cresce no solo e por pouco não se extinguiu antes mesmo de entrar para a história. Na notícia do Eurekalert, Knudson declara: "Essa espécie mal sobreviveu ao gado, alces e veados que pastavam na ilha Santa Rosa. Mas agora o gado foi removido, e ela começou a se recuperar. Com a futura remoção dos alces e dos veados – ambos introduzidos na ilha – ela deve se recuperar completamente."

Não sei se ele pensou nisso como metáfora para o que se espera do novo presidente. E mais: Knudson não tem nenhuma formação em ciência. Até 2000, quando se aposentou, ele trabalhava em obras. Um peão sem saber o que fazer com as mãos, descobriu que gostava de líquens, que são uma simbiose entre fungo e alga. Se apresentou como voluntário no herbário, onde já formou uma coleção de mais de 10 mil líquens, publicou mais de 70 artigos científicos e descreveu mais de 25 líquens e fungos que crescem em líquens.

Yes, we can.

15 abril 2009

O mecânico do Hubble

Já indiquei aqui um vídeo sobre a missão para consertar o telescópio Hubble. Agora a missão - a última nesses moldes - está se preparando para decolar em maio. O site do New York Times traz uma bela apresentação de imagens do Hubble, fotografias feitas por ele e sobre a preparação para consertá-lo. A apresentação é narrada pelo astronauta John Grunsfeld, o mecânico oficial do Hubble. Para ele, esse telescópio virou o queridinho do público porque põe maravilhas do Universo diante dos nossos olhos.

Vale a pena mesmo sem a narração, as imagens são estonteantes. (A foto acima, da NASA, eu peguei no New York Times)

E por falar em vídeos, volto a reiterar: os filminhos de que falei ontem merecem ser vistos!!! Não se preocupem: não são indecentes, ninguém vai estragar o casamento ou perder o emprego por causa disso. Como disse Isabella na entrevista, a linguagem não é mais explícita do que aparece em documentários da National Geographic.

14 abril 2009

Sexo animal

Isabella Rossellini remete a filmes como "Veludo azul". Pois a bela atriz italiana anda envolvida em projetos bem diferentes: ouvi hoje uma entrevista na NPR (em inglês, assim como tudo o que vou recomendar aqui) em que ela conta sobre o "Green porno" (clique no título para ver os vídeos).

"Sempre gostei de comportamento animal", diz ela. Mas como as pessoas têm preferência por um aspecto do comportamento - o sexo - ela resolveu usar esse tema para uma série de filmes sobre animais marinhos e invertebrados.


Prepare-se para ver Isabella andando em meio a uma floresta de pênis gigantes feitos de papel, com diversas cores e formas, explicando sobre o encaixe necessário com vaginas específicas; vestida de baleia macho com uma ereção de dois metros; como estrela-do-mar que dá origem a outras isabellas ao perder um braço e uma perna (por isso não precisa de pênis); como uma craca que se transforma de macho em fêmea e vice-versa (foto); um peixe de águas profundas, narigudo para farejar a fêmea na qual se finca e se transforma num apêndice sexual. Essa é a segunda temporada, a marítima.

Na temporada terrestre ela aparece como um aranho cheio de olhos que se aproxima com todo cuidado da teia para evitar ser devorado; uma mosca que escapa com facilidade de uma jornalada, cospe na comida para digerir antes de sugar e admira suas larvas crescendo num cadáver, uma minhoca hermafrodita que copula em posição 69, um caramujo sado-masoquista armado de vagina, pênis e dardos e um zangão que não faz nada até precisar lutar pela abelha.

Nessa maravilhosa série que merece alguém que lhe ponha legendas, Isabella Rossellini põe a serviço da divulgação de ciência todo o seu talento, sua malícia, sua sensualidade. Cansada do ecopoliciamento, ela prefere maravilhar e divertir as pessoas a ponto de que, quem sabe, queiram proteger a natureza.

09 abril 2009

Remédios, para quem?

Ouvi ontem uma entrevista interessante com o médico norte-americano John Abramson, autor do livro Overdosed America - the Broken Promise of American Medicine. Durante sua experiência clínica no estado de Massachusetts, ele se deu conta de que a busca por medicamentos não está a serviço dos pacientes, mas da indústria. Tem a ver com o que o Karl escreveu no Ecce medicus um tempo atrás.

Frustrado, Abramson deixou de clinicar para escrever o livro, direcionado para as vítimas potenciais - os médicos, segundo ele, ainda não estão prontos para ouvir que também estão sendo enganados.

Ele conta que boa parte da pesquisa para desenvolver medicamentos é financiada pela indústria farmacêutica. O mesmo vale para boa parte dos periódicos científicos especializados - a fonte de informação supostamente isenta e fidedigna para pesquisadores e médicos. Além disso, os Estados Unidos são dos poucos países que permitem a propaganda de remédios diretamente ao consumidor - que já chega ao consultório pedindo por um remédio, solicitação a que os médicos tendem a aceder. Com isso tudo, tanto médicos como pacientes acabam sendo enganados e acabam recorrendo a medicamentos mais caros e menos adequados (algo que a Tara Parker-Pope, do New York Times, também denunciou).

Ao fazer a pesquisa para o livro, Abramson examinou registros de testes clínicos publicados e não publicados. Viu que a publicação dos resultados não segue as regras da ciência, mas as da economia: remédios mais lucrativos são mais divulgados, resultados negativos de remédios lucrativos são varridos para baixo do tapete.

Ao fim, o médico denuncia o foco excessivo da sociedade moderna em remédios, a opção aparentemente cômoda por encontrar pílulas que resolvam tudo. Ele lembra que nada como um bom estilo de vida - dieta mediterrânea, exercício, boas horas de sono - para ser mais saudável. Para ele, se uma paciente chega ao consultório pedindo um exame para medir os teores de colesterol - e em busca de estatinas para controlá-lo, o médico tem que interpretar o pedido. Se o que ela quer é reduzir as chances de ter problemas cardiovasculares, medir o colesterol não é necessariamente a melhor opção.

A entrevista, em inglês, está no podcast "Berkeley groks".

05 abril 2009

Um bom copo de... urina

A Pesquisa de abril já está saindo do forno e ainda não pus aqui nenhum destaque do que andei fazendo para março.

E tem coisa legal: as bromélias de tanque, essas que acumulam água numa poça formada pelas folhas (ao lado, na foto de Lisa Chaer), conseguem aproveitar a ureia deixada pelas pererecas - que ali se abrigam e depositam ovos - como fonte de nitrogênio.

A descoberta é do grupo da botânica Helenice Mercier, que foi minha professora na USP, em experimentos de laboratório. A comprovação de que funciona mesmo na natureza está por vir, numa colaboração com Gustavo Romero, da Unesp de São José do Rio Preto.

Por enquanto, Gustavo já mostrou que fezes de aranhas também podem ser uma fonte importante de nitrogênio para bromélias.

Foi um desafio falar de xixi de perereca e cocô de aranha e manter o bom gosto que a revista exige... O resultado está aqui.


Para quem é da área, artigos:


-Cambuí, Camila A. et al. 2009. Detection of urease in the cell wall and membranes from leaf tissues of bromeliad species. Physiologia Plantarum, online. -Inselsbacher, Erich et al. 2007. Microbial activities and foliar uptake of nitrogen in the epiphytic bromeliad Vriesea gigantea. New Phytologist, 175 (2): 311-320.
-Romero, Gustavo Q. et al. 2006. Bromeliad-living spiders improve host plant nutrition and growth. Ecology, 87 (4): 803-808.
-Romero, Gustavo Q. et al. 2008. Spatial variation in the strength of mutualism between a jumping spider and a terrestrial bromeliad: Evidence from the stable isotope 15N. Acta Oecologica, 33 (3): 380-386.
-Takahashi, Cássia A. et al. 2007. Differential capacity of nitrogen assimilation between apical and basal leaf portions of a tank epiphytic bromeliad. Brazilian Journal of Plant Physiology, 19 (2): 119-126.

03 abril 2009

A ciência brasileira perde um de seus pioneiros

Morreu hoje o biólogo Crodowaldo Pavan, um pioneiro da genética no Brasil. Não o conheci e não tenho nada a adicionar ao que está sendo escrito por aí. O Reinaldo José Lopes fez um bom texto para o G1, contando como alguns pesquisadores veem a perda e a contribuição de Pavan.

Deixo aqui recomendada também uma entrevista que Pavan concedeu em 1998 a Ricardo Zorzetto, hoje meu chefe na revista Pesquisa.

A foto é da SBPC.

02 abril 2009

Corra e olhe o céu

Caminhar no escuro longe das luzes urbanas é uma experiência mágica. A imensidão escura com incontáveis pontos brilhantes de cores e tamanhos diversos (mas há quem os conte, por lazer ou profissão). São planetas, são estrelas que às vezes riscam o céu muito mais depressa do que um desprevenido consegue formular um desejo.

Um céu imenso que, nas noites mais escuras, chega a parecer um manto sólido que reduz uma pessoa à sua devida insignificância. Em certas situações, andando na escuridão completa, já tive a sensação de diminuir até quase desaparecer. Recomendo, de preferência depois de um reconhecimento de terreno que permita eliminar preocupações terrenas como a de cair num buraco ou pisar nalgum bicho noturno.

No entanto, o dia-a-dia urbano nos rouba o céu. Iluminação exagerada que rouba o negro do céu e ofusca as estrelas, poucas caminhadas noturnas, poucos jardins onde se possa deitar à noite e simplesmente olhar para o alto.

As 100 horas de astronomia buscam remediar um pouco disso. De hoje a domingo, uma série de atividades estimularão os passantes apressados a pararem para olhar o céu. Mais informações aqui. Veja também a coluna do astrofísico Augusto Damineli, da USP, no site da revista Pesquisa.