12 abril 2006

Up the mainstream till no stream...

Interessante o aparecimento de agências de notícias de blogs, que servem para alimentar a imprensa mainstream (ver notícia que reproduzo abaixo). Prova de força da blogosfera? Ou mais um exemplo de como movimentos de contra-cultura acabam sendo co-optados para o mainstream? Este processo é interessante e pode ser visto como uma interação caos/cosmos em que elementos de caos vão sendo integrados ao cosmos (mainstream). Será que virar produto de mainstream significa perder liberdade, ser domado? Ou será que todo o movimento de contra-cultura deseja secretamente fazer parte do mainstream? Em relação aos blogs, os dados só agora estão sendo lançados e teremos de aguardar.

No texto jornalístico diz-se “Os jornalistas tradicionais tendem a ver a escrita de autor dos blogues como uma ameaça à imparcialidade, e o conceito de liberdade que impulsionou a grande difusão de blogues poderá ter dificuldade em adaptar-se a restrições editoriais”.

Concordo, e apostaria que muitos blogueiros se iniciaram na blogosfera justamente pela perda de paciência com as parcialidades editoriais da imprensa mainstream e a falta de qualidade de seus textos. É um problema de parcialidades, de ângulos de luz que iluminam objetos.


Por mim, e por ora, prefiro ficar contemplando esse mainstream desde upstream ou mesmo desde no stream at all. Ou estarei a cair no mesmo auto-engano da contra-cultura? Talvez o melhor mesmo, seja fazer parte do mainstream downstream, perto da foz desse rio informacional, no mar, que é vasto e pode dar-me a ilusão de liberdade. Sempre, o mar!


Up the mainstream till no stream,
down the mainstream till all streams, the sea!


PÚBLICO, 11.04.2006
Catarina Homem Marques

BlogBurst: criada agência de blogues para fornecer conteúdos para jornais

Um blogue "é um registro publicado na Internet relativo a algum assunto organizado cronologicamente". É assim que a Wikipédia introduz o termo. Mas mesmo a simples definição que aparece na enciclopédia online se vai desdobrando para descobrir mais à frente uma realidade mais complexa: "Alguns sites têm inovado e usado o blogue como um tipo de media no qual jornalistas colocam notícias e comentários da sua área." O responsável por esta entrada da Wilkipédia não terá tido de recorrer a capacidades paranormais para antever a importância crescente desta comunidade virtual na cobertura noticiosa. Se não bastassem as bem sucedidas experiências de interactividade entre os sites de conhecidos jornais de todo o mundo e a blogosfera, surge esta semana o BlogBurst, um novo serviço de agência que se compromete a gerir as relações entre cerca de 600 blogues e os media "mainstream". O serviço vai funcionar assim: os blogues inscrevem-se na agência e sujeitam-se a uma avaliação prévia que vai definir quais têm qualidade para pertencer ao serviço; depois, a lista dos domínios aprovados vai ser fornecida aos jornais, que só têm de escolher aqueles que querem utilizar e por que período de tempo; por fim, o conteúdo dos blogues escolhidos vai aparecer no site do jornal, adaptado ao grafismo e exigências da publicação em questão. O conceito é inovador e vai funcionar assente numa lógica de complementaridade. Os sites dos jornais conseguem uma cobertura mais alargada, junto de um público jovem e especialmente interessado na Internet, e os bloguistas vão beneficiar de uma maior exposição mediática e de maior prestígio. Além disso, os jornais encontram uma forma de cobrir assuntos para os quais podem não ter uma equipa destacada, como temas relacionados com moda, viagens ou gastronomia. "Existem grandes bloguistas e muitas vezes abordam assuntos em que o site do jornal pode não ser tão especializado", disse Jim Brady, o editor executivo do washingtonpost.com, uma das publicações que já estabeleceu parceria com o BlogBurst." A fronteira entre os media mainstream e o resto do mundo começa a esbater-se, não porque as pessoas começam a aderir aos media, mas pelo efeito contrário: os media mainstream estão a chegar até às pessoas", disse Jeff Jarvis, crítico de media, à Reuters, apesar de duvidar do sucesso de uma agência de blogues.A relação entre as duas partes parece estar cada vez mais consolidada, mas nem por isso deixam de ficar no ar algumas dúvidas quanto ao pacifismo desta proximidade. Os jornalistas tradicionais tendem a ver a escrita de autor dos blogues como uma ameaça à imparcialidade, e o conceito de liberdade que impulsionou a grande difusão de blogues poderá ter dificuldade em adaptar-se a restrições editoriais. Ou, então, o futuro passa mesmo pela reunião das duas tendências.

3 comentários:

Osame Kinouchi disse...

João,

Se os blogs apenas serem fonte de informacao para o mainstream, em vez de serem mera caixa de ressonancia do mainstream (como atualmente muitos blogs politicos o são), nao vejo problema.

Agora, realmente Blogs levantam questoes eticas delicadas:
1. Posso difamar um desafeto atraves de um blog, destruir a vida de uma pessoa. E ai?
2. Posso espalhar rumores ou mentiras jornalisticas.
3.

A força da Blogosfera estaria na sua capacidade de auto-correção. Um rumor seria dampened etc. Nao sei se existem estudos sobre isso. Sera que não existem "mitos" circulantes na Blogosfera?

4. Voce ja teve paciencia de ler Blogs de direita americana. Aquilo dá vontade de vomitar, e nesse sentido, o jornalismo convencional é melhor e mais crivel que a Blogosfera. O mesmo pode ser dito para certos blogs de esquerda, mas surpreendentemente, a esquerda tende a ser mais racional e menos retorica. Talvez por isso essa blogosfera de esquerda seja mais fraca...

João Alexandrino disse...

Verdade que existem parcialidades em todo o lado, mas é uma questão de poder corporativo versus o poder que o sujeito tem de der ele próprio. Um grupo deveria ser melhor que a soma de sujeitos, uma vez que o grupo só existe se houver altruismo entre os sujeitos que o compõem. Isso não acontece quando o grupo tem de lutar contra outros grupos que ocupam um mesmo nicho cultural (ecológico), por que o grupo se torna na unidade de seleção (é outra discussão, mas vc leu o artigo do Contardo Calligaris na Folha de hoje? ele fala do mesmo problema por outra perspectiva, embora ele não chegue à questão da seleção e conexão em estruturas hierárquicas). Aí, o sujeito que quer manter-se um pensador livre tem de abdicar um pouco da dinâmica de grupo, e boa parte da blogosfera poderá ser reflexo dessa insatisfação. Mas blogs são uma forma de veiculação de informação que, como tal, pode ser usada para qualquer fim, seja auto-promoção individual ou propaganda de grupo. Mas eu prefiro a responsabilização do indivíduo à do grupo, mesmo que o indivíduo apenas escolha (?) representar o grupo. E é sempre difícil saber o que está por de trás da imprensa corporativa. Dada a parcialidade, falta de qualidade e profundidade da imprensa corporativa, seja por parcialidade e/ou incompetência, eu não me sinto representado no mainstream. Não quer dizer que o ignore, mas sim que tento evitar que influencie demasiado a minha capacidade de ser independente. Para mim, pensamento livre requer sempre algum grau de reclusão (muito relacionado com o meu texto Espelhos...). Os blogs podem servir para isso, evitando ao mesmo tempo o sentimento de isolamento que a reclusão implica. É essencialmente por isso que iniciei um blog com um grupo de sujeitos que podem ser pensadores livres sempre que o desejarem.

João Alexandrino disse...

Na verdade o texto deste blog a que queria fazer referência era o "Conhecimento de si no espaço/tempo" e não "Espelhos...".