16 agosto 2007

Células-tronco na livraria Cultura

Anunciei o debate desta semana e não quero ficar na propaganda. Ponho então aqui uma rápida síntese do que foi dito. Para saber quem é quem, veja aqui.

Mayana Zatz
Contou as lutas que têm sido travadas entre diversos setores da sociedade durante o processo de decidir se será ou não permitido usar células-tronco embrionárias humanas para pesquisa, no Brasil. Em breve será feita a votação final. Por isso ela considera vital disseminar informação de maneira que a sociedade tenha um embasamento sólido para formar sua opinião.

Ela trabalha com doenças degenerativas, principalmente crianças com distrofia muscular de Duchenne. É uma doença de origem genética em que a musculatura gradativamente se atrofia. Assim a criança não pode andar e acaba por perder a ação do diafragma e não pode mais respirar sem assistência. Com muito atendimento, respiradores e muito mais, essas pessoas vivem 20 anos.Tratamento com células-tronco é, por enquanto, a única esperança.

Mayana mostrou fotos dessas crianças e imagens dos embriões usados na pesquisa: são aglomerados com 8 células todas iguais, o todo muito menor do que o buraco de uma agulha de seringa. Não dá para comparar, segundo ela, a humanidade de uns e outros. Os embriões usados para pesquisa são sempre doados por casais que os têm congelados em clínicas de fertilidade. Não serão utilizados e não têm existência nenhuma, quando se pensa em desenvolver uma vida humana, a não ser por intervenção médica: implantá-los num útero por 9 meses etc. Por isso ela ressalta: usar esses embriões não equivale a aborto.

Ainda não se sabe para que células-tronco embrionárias servirão, a pesquisa está ainda em estágios pré-clínicos.

José Eduardo Krieger
Fez analogia com hardware e software: as células-tronco são o software que pode ajudar a entender o funcionamento estrutural do organismo. É possível que, ao cabo da pesquisa, se conheça o suficiente para poder reprogramar o funcionamento das células do corpo adulto e poder afinal prescindir de células-tronco. Só o tempo e a pesquisa dirão.

Ele usa células-tronco adultas como tratamento para problemas cardíacos. Para alguns casos elas funcionam, mas ainda não se sabe como nem o que acontecerá em longo prazo. Para que a ciência avance de fato, é preciso fazer experimentos em que parte dos pacientes recebe o tratamento e parte não recebe. Está em curso um grande experimento nesse sentido, ainda não há resultados.

Células-tronco são coringas celulares. As embrionárias podem assumir qualquer função; já as adultas - o que inclui células de cordão umbilical - só funcionam em algumas posições.

Mara Gabrilli
Jovem, teve um acidente de carro e perdeu o movimento do pescoço para baixo. No início não tinha nem como respirar sozinha. Quando voltou a conseguir respirar, a libertação foi tremenda. "Descobri que a felicidade é um estado interno", disse.

Apesar de não ter movimentos no corpo ela se considera privilegiada. Tem uma moça (carinhosíssima, aliás) que a acompanha sempre e faz tudo para ela, inclusive massagear suas pernas e mãos que sofrem com o frio do ar-condicionado; pôde tratar-se nos melhores hospitais; tem um motorista que a leva e carrega para os lugares. Ela luta - através de uma organização que fundou e em sua atividade política - para que os outros milhões de deficientes (3 milhões só em São Paulo, disse) tenham condições melhores de vida.

Ela também se considera privilegiada porque, ao contrário dos pacientes de Mayana, não corre contra o tempo. Sua situação de saúde é estável. Para ela, a informação é uma peça essencial para que a sociedade ajude a melhorar a vida de quem tem deficiências.

Ela participou de estudo com células-tronco adultas para tratar paralisia causada por impacto, como é o caso dela. "Tomei a injeção com células há três anos e continuo paraplégica", contou. É preciso muito mais pesquisa, e para isso é essencial a aprovação do uso de células-tronco embrionárias.

Jorge Forbes
Fez uma intervenção erudita que juntou poesia, filosofia e literatura. Seus dez aforismos pela vida, em que se perguntava sobretudo onde começa a vida humana, não acrescentaram fatos à apresentação. Nem teria como sintetizar, então fico por aqui.


Para apoiar a aprovação de pesquisas com células-tronco embrionárias, veja aqui.

3 comentários:

João Carlos disse...

Excelente, Maria!

Todos em minha família "assinaram" a petição.

João Carlos disse...

Ah... Sim... Se você encontrar uma mensagem minha no Orkut, recrutando novos signatários para a petição, não é mera coincidência.

Maria Guimarães disse...

oba! é esse o efeito multiplicador que a mara gabrilli pediu em sua fala.