29 outubro 2008

Ciência é ficção?

"A imaginação é mais importante que o conhecimento" disse Albert Einstein.

Fiquei pensando nisso quando ouvi uma entrevista (em inglês) com os criadores da nova ópera "Doctor Atomic", que está em cartaz em Nova York. Trata realmente da confecção da bomba atômica, o personagem principal é o Robert Oppenheimer.

Quando perguntaram à diretora da ópera, Penny Woolcock, como era fazer um espetáculo sobre ciência - ela que não tem conhecimentos na área, ela respondeu o seguinte. Ela aprendeu o que precisava sobre ciência porque um ex-sogro dela é Nobel de química. Convivendo com ele, ela descobriu que a ciência na verdade não é muito diferente da arte. As grandes descobertas são inspiração, dependem sobretudo de criatividade. No início. Depois tem muito trabalho para verificar se é isso mesmo.

Me senti um pouco redimida, quando eu estava no doutorado um dia concluí que querer ser cientista por motivos poéticos não podia ser lícito.

O Luís Fernando Veríssimo escreveu lindamente (e divertidamente) a mesma coisa que a Penny disse, vejam.


Encontros e Desencontros (Zero Hora, 18/03/2007)

Einstein morreu e, assim que chegou ao céu, Deus mandou chamá-lo.

- Einstein! - exclamou Deus, quando o viu.
- Todo-Poderoso! - exclamou Einstein, já que estavam usando sobrenomes. E continuou: - Você está muito bem para uma projeção antropomórfica do monoteísmo judaico-cristão.
- Obrigado. Você também está com ótimo aspecto.
- Para um morto, você quer dizer.
- Eu tinha muita curiosidade em conhecê-lo - diz Deus.
- É mesmo?
- Juro por Mim. Há anos que espero esta chance.
- Puxa...
- Não é confete, não. É que tem uma coisa que Eu queria lhe perguntar..
- Pergunte.
- Tudo que você descobriu foi por estudo e observação, certo?
- Bem...
- Quer dizer, foi preciso que Eu criasse um Copérnico, depois um Newton, etc., para que houvesse um Einstein. Tudo numa progressão natural.
- Claro.
- E você chegou às suas conclusões estudando o que os outros tinham descoberto e fazendo suas próprias observações de fenômenos naturais. Desvendando os meus enigmas.
- Aliás, parabéns, hein? Não foi fácil. Tive que suar o cardigan.
- Obrigado. A gente faz o que pode. Mas a teoria geral da relatividade...
- Sim?
- Você tirou do nada.
- Bem, eu...
- Não me venha com modéstia - interrompeu Deus. - Você já está no céu, não precisa mais fingir. Você não chegou à teoria geral da relatividade por observação e dedução. Você a bolou. Foi uma sacada, é ou não é?
- É.
- Maldição! - gritou Deus.
- O que é isso, Todo-Poderoso?
- Não se escapa da metafísica. Sempre se chega a um ponto em que não há outra explicação. Eu não agüento isso!

- Mas...
- Eu não agüento a metafísica!

Einstein tentou acalmar Deus.
- A minha teoria ainda não está cem por cento provada.
- Mas ela está certa. Eu sei. Fui Eu que criei tudo isto.
- Pois então? Você fez muito mais do que eu.
- Não tente me consolar, Einstein.
- Você também criou do nada.
- Eu sei! Você não entendeu? Eu sou Deus. Eu sou a minha própria explicação. Mas você não tem desculpa. Com você foi metafísica mesmo.
- Desculpe, eu...
- Tudo bem, tudo bem. Pode ir.
- Tem certeza que não quer que eu...
- Não. Pode ir. Eu me recupero. Vai, vai.

Quando Einstein saiu, viu que Deus se dirigia ao armário de bebidas.

Luis Fernando Veríssimo

(tirei daqui)

A foto (pequena, pena...) é do dream science circus


Isto é parte da discussão em curso no roda de ciência.
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