Remédios, para quem?
Ouvi ontem uma entrevista interessante com o médico norte-americano John Abramson, autor do livro Overdosed America - the Broken Promise of American Medicine. Durante sua experiência clínica no estado de Massachusetts, ele se deu conta de que a busca por medicamentos não está a serviço dos pacientes, mas da indústria. Tem a ver com o que o Karl escreveu no Ecce medicus um tempo atrás.
Frustrado, Abramson deixou de clinicar para escrever o livro, direcionado para as vítimas potenciais - os médicos, segundo ele, ainda não estão prontos para ouvir que também estão sendo enganados.
Ele conta que boa parte da pesquisa para desenvolver medicamentos é financiada pela indústria farmacêutica. O mesmo vale para boa parte dos periódicos científicos especializados - a fonte de informação supostamente isenta e fidedigna para pesquisadores e médicos. Além disso, os Estados Unidos são dos poucos países que permitem a propaganda de remédios diretamente ao consumidor - que já chega ao consultório pedindo por um remédio, solicitação a que os médicos tendem a aceder. Com isso tudo, tanto médicos como pacientes acabam sendo enganados e acabam recorrendo a medicamentos mais caros e menos adequados (algo que a Tara Parker-Pope, do New York Times, também denunciou).
Ao fazer a pesquisa para o livro, Abramson examinou registros de testes clínicos publicados e não publicados. Viu que a publicação dos resultados não segue as regras da ciência, mas as da economia: remédios mais lucrativos são mais divulgados, resultados negativos de remédios lucrativos são varridos para baixo do tapete.
Ao fim, o médico denuncia o foco excessivo da sociedade moderna em remédios, a opção aparentemente cômoda por encontrar pílulas que resolvam tudo. Ele lembra que nada como um bom estilo de vida - dieta mediterrânea, exercício, boas horas de sono - para ser mais saudável. Para ele, se uma paciente chega ao consultório pedindo um exame para medir os teores de colesterol - e em busca de estatinas para controlá-lo, o médico tem que interpretar o pedido. Se o que ela quer é reduzir as chances de ter problemas cardiovasculares, medir o colesterol não é necessariamente a melhor opção.
A entrevista, em inglês, está no podcast "Berkeley groks".
4 comentários:
Essa menina só me dá alegria!!
Excelente post. Entretanto, o Abramson está chovendo no molhado. Mas acho bom bater pesado, porque a BigPharma bate muuuiiito mais pesado.
Parabéns.
Eu concordo que a big pharma bate pesado e que tem muito resultado "manipulado" (aquilo que voce disse sobre publicar resultado positivo e varrer pra baixo do tapete os negativos). Mas queria adicionar, tendo trabalhado nos ultimos 3 anos no Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, que tem um numero razoavel de drogas sendo desenvolvidas em universidades e centros como este, sem nenhuma influencia ou dinheiro proveniente da industria. Entao tem um lado menos pesado nisso tambem. Mas que sou contra essa hipocondria social, isso sou.
obrigada aos dois pela visita comentada!
Um dos problemas que os médicos sempre têm é em relação aos medicamentos. Atualmente temos mais de 11 mil apresentações de produtos, que torna a tarefa de prescrever um tormento para médicos e pacientes. Para os médicos é difícil lembrar dos nomes de produtos, suas apresentações e complicações, para os pacientes é difícil entender a letra do médico e entender a prescrição. Em estudo recente, 10% das receitas contém erros, e mais de 40% dos pacientes não entendeu o que foi prescrito e orientado.
Para este problema, médicos formados na UNIFESP e USP desenvolveram um Portal de Serviços Médicos chamado PORTAL SAÚDE DIRETA(www.saudedireta.com.br). Este portal tem um Prontuário Eletrônico de Pacientes, de uso livre e gratuito para os médicos. Nele o médico encontrará poderosas ferramentas prescricionais, como um completo banco de dados de medicamentos, uma ferramenta de análise automática de interações de medicamentos on line, em português, que funciona ato da prescrição, e ainda a possibilidade de imprimir as receitas. O Portal é totalmente web, gratuito, rápido e seguro.
Os médicos agora têm a disposição este serviço web, que pode ser acessado de qualquer lugar do planeta, por qualquer dispositivo fixo ou móvel com conexão à internet. Se o médico prescrever um medicamento para um paciente idoso, e este estiver usando vários medicamentos anteriormente, agora é possível detectar imediatamente qualquer interação medicamentosas entre as 155 mil possíveis que estão no Banco de Dados. É uma imensa segurança para os médicos e pacientes. Reações Adversas a Medicamentosas matam mais de 100 mil pacientes por ano nos USA, pacientes internados em hospitais, e que são monitorados por sistemas semelhantes. São mais de 700 mil casos nos USA, tornando-se a quarta maior causa de morte! No Brasil os dados estatísticos são desconhecidos ou incompletos, e para piorar o brasileiro adora auto-medicação.
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