Quem mama direto da fonte fica mais inteligente
Amamentar - sem nenhum outro suplemento alimentar - por mais tempo melhora o desenvolvimento cognitivo das crianças. É o que diz um artigo (com acesso restrito) publicado em maio na revista Archives of General Psychiatry.
A conclusão vem de um experimento feito por um grupo de pesquisadores do Canadá e da Bielorrússia, integrantes do Probit (Promotion of Breastfeeding Intervention Trial - Experimento de intervenção em promover a amamentação). Em 31 maternidades bielorrussas, o grupo avaliou mais de 17 mil bebês em fase de amamentação e seguiu quase 14 mil deles (81,5%) até os 6 anos e meio. Metade das mães passou por uma campanha para estimular amamentação desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde e pela Unicef. A outra metade teve o apoio normal dado pelas maternidades.
A intervenção foi responsável por um grande aumento na amamentação exclusiva aos 3 meses de idade e as mães tenderam a amamentar, em alguma proporção, por mais tempo.
Quando as crianças tinham 6,5 anos de idade, os pesquisadores avaliaram sua capacidade cognitiva e desenvolvimento verbal. As diferenças - em QI, vocabulário, capacidades lingüísticas e matemáticas - foram pequenas, mas favoreceram invariavelmente o grupo estimulado à amamentação.
Não é necessariamente o leite. O artigo considera explicações alternativas, como mudanças epigenéticas causadas pelo contato mais íntimo e prolongado entre mãe e bebê, que pode ter efeitos fisiológicos que acelerem o desenvolvimento neurocognitivo. Além disso, a conversinha da mãe enquanto amamenta pode ajudar a desenvolver as capacidades lingüísticas.
As diferenças são sutis, não é ainda a prova cabal de que restringir um bebê ao leite materno nos primeiros meses e amamentar por um tempo prolongado realmente afeta o desenvolvimento cognitivo. Mas é uma sugestão interessante, que a meu ver merece ser considerada e mais estudada.
5 comentários:
Que interessante! Quando tiver um filho, com certeza, vou usar o leite materno pelo tempo recomendado. Só traz boa saúde para o nenê.
Em minha família eu tenho um caso particular que merece reflexão. Minha filha mais velha foi amamentada no peito até os dois anos (teve que ser desmamada porque o irmão estava para nascer...) Já meu segundo filho só mamou no peito por seis meses (e, mesmo assim, com complemento de leite de mamadeira).
Para não bancar o pai-coruja, digamos que é praticamente impossível observar diferenças entre as habilidades cognitivas de ambos e, se alguma houver, favorece o mais novo. Mas existe um outro ponto a considerar: ele sempre desenvolveu suas "habilidades" mais rapidamente por imitação do que a mais velha fazia.
tem isso, entra aí o efeito do mais novo que sempre tem essa vantagem. não só pode imitar como encontra uma pressão seletiva alta já ao nascer. se não aprender a se defender, pode ficar difícil.
Voltei!
Como amamentei minha filha até os 2 anos e 2 meses e tenho um filho de 1 ano e 9 meses que vive - literalmente - grudado em mim, resolvi deixar um comentário:
1)acho o desenvolvimento cognitivo deles excelente - mas se isso é por conta da corujice ou da amamentação, não consigo diferenciar;
2) concordo, o segundo imita a primeira em praticamente tudo e, com tal "professora", aprende rápido;
3) isso tudo sobre amamentar é muito lindo... mas dá uma canseira danada... :) principalmente se a mãe tem uma agenda lotada, com compromissos maternos e profissionais urgentes! (os maternos quase sempre são urgentes... bem, os profissionais também :):))
enfim, gostei do tema, mas acho que ninguém adota e persiste na "prática" da amamentação visando o benefício cognitivo que ela possa trazer ao rebento (óbvio que isso é um "plus"), mas pelo prazer que proporciona. A correria do dia-a-dia anda na contra-mãe, ops, na contra-mão deste processo. Parabéns a São Paulo (o Estado!) por estabelecer uma licença-maternidade de 6 meses!!
grande abraço,
ana claudia
salve, professora ana claudia! consegui a sua presença, maravilha.
seu comentário final tem a ver com algo do artigo que não comentei: eles limitaram a amostra a mães que já estavam amamentando - o grupo experimental consistia em estimulá-las a amamentar mais e melhor.
os autores consideram que é muito mais difícil convencer a amamentar alguém que não tem essa iniciativa - justamente porque tem tantos valores em jogo.
mas quem já se dispõe ao investimento talvez se disponha a investir um pouco mais se souber que faz diferença.
mas aí, me ocorre, é preciso detalhar qual aspecto da amamentação é mais essencial. se for a convivência entre mãe e filho, não adianta tirar o próprio leite para a criança mamar quando a mãe tem que ir trabalhar...
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