23 julho 2008

Quem mama direto da fonte fica mais inteligente

Amamentar - sem nenhum outro suplemento alimentar - por mais tempo melhora o desenvolvimento cognitivo das crianças. É o que diz um artigo (com acesso restrito) publicado em maio na revista Archives of General Psychiatry.

A conclusão vem de um experimento feito por um grupo de pesquisadores do Canadá e da Bielorrússia, integrantes do Probit (Promotion of Breastfeeding Intervention Trial - Experimento de intervenção em promover a amamentação). Em 31 maternidades bielorrussas, o grupo avaliou mais de 17 mil bebês em fase de amamentação e seguiu quase 14 mil deles (81,5%) até os 6 anos e meio. Metade das mães passou por uma campanha para estimular amamentação desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde e pela Unicef. A outra metade teve o apoio normal dado pelas maternidades.

A intervenção foi responsável por um grande aumento na amamentação exclusiva aos 3 meses de idade e as mães tenderam a amamentar, em alguma proporção, por mais tempo.

Quando as crianças tinham 6,5 anos de idade, os pesquisadores avaliaram sua capacidade cognitiva e desenvolvimento verbal. As diferenças - em QI, vocabulário, capacidades lingüísticas e matemáticas - foram pequenas, mas favoreceram invariavelmente o grupo estimulado à amamentação.

Não é necessariamente o leite. O artigo considera explicações alternativas, como mudanças epigenéticas causadas pelo contato mais íntimo e prolongado entre mãe e bebê, que pode ter efeitos fisiológicos que acelerem o desenvolvimento neurocognitivo. Além disso, a conversinha da mãe enquanto amamenta pode ajudar a desenvolver as capacidades lingüísticas.

As diferenças são sutis, não é ainda a prova cabal de que restringir um bebê ao leite materno nos primeiros meses e amamentar por um tempo prolongado realmente afeta o desenvolvimento cognitivo. Mas é uma sugestão interessante, que a meu ver merece ser considerada e mais estudada.


5 comentários:

Anónimo disse...

Que interessante! Quando tiver um filho, com certeza, vou usar o leite materno pelo tempo recomendado. Só traz boa saúde para o nenê.

João Carlos disse...

Em minha família eu tenho um caso particular que merece reflexão. Minha filha mais velha foi amamentada no peito até os dois anos (teve que ser desmamada porque o irmão estava para nascer...) Já meu segundo filho só mamou no peito por seis meses (e, mesmo assim, com complemento de leite de mamadeira).

Para não bancar o pai-coruja, digamos que é praticamente impossível observar diferenças entre as habilidades cognitivas de ambos e, se alguma houver, favorece o mais novo. Mas existe um outro ponto a considerar: ele sempre desenvolveu suas "habilidades" mais rapidamente por imitação do que a mais velha fazia.

Maria Guimarães disse...

tem isso, entra aí o efeito do mais novo que sempre tem essa vantagem. não só pode imitar como encontra uma pressão seletiva alta já ao nascer. se não aprender a se defender, pode ficar difícil.

via gene disse...

Voltei!

Como amamentei minha filha até os 2 anos e 2 meses e tenho um filho de 1 ano e 9 meses que vive - literalmente - grudado em mim, resolvi deixar um comentário:

1)acho o desenvolvimento cognitivo deles excelente - mas se isso é por conta da corujice ou da amamentação, não consigo diferenciar;

2) concordo, o segundo imita a primeira em praticamente tudo e, com tal "professora", aprende rápido;

3) isso tudo sobre amamentar é muito lindo... mas dá uma canseira danada... :) principalmente se a mãe tem uma agenda lotada, com compromissos maternos e profissionais urgentes! (os maternos quase sempre são urgentes... bem, os profissionais também :):))

enfim, gostei do tema, mas acho que ninguém adota e persiste na "prática" da amamentação visando o benefício cognitivo que ela possa trazer ao rebento (óbvio que isso é um "plus"), mas pelo prazer que proporciona. A correria do dia-a-dia anda na contra-mãe, ops, na contra-mão deste processo. Parabéns a São Paulo (o Estado!) por estabelecer uma licença-maternidade de 6 meses!!

grande abraço,

ana claudia

Maria Guimarães disse...

salve, professora ana claudia! consegui a sua presença, maravilha.
seu comentário final tem a ver com algo do artigo que não comentei: eles limitaram a amostra a mães que já estavam amamentando - o grupo experimental consistia em estimulá-las a amamentar mais e melhor.
os autores consideram que é muito mais difícil convencer a amamentar alguém que não tem essa iniciativa - justamente porque tem tantos valores em jogo.
mas quem já se dispõe ao investimento talvez se disponha a investir um pouco mais se souber que faz diferença.
mas aí, me ocorre, é preciso detalhar qual aspecto da amamentação é mais essencial. se for a convivência entre mãe e filho, não adianta tirar o próprio leite para a criança mamar quando a mãe tem que ir trabalhar...