08 dezembro 2008

Floresta aos pedaços

Uma mata fragmentada como essa que fotografei no interior de São Paulo - sobrou alguma coisa nos topos dos morros, ilhados por cana-de-açúcar - não padece só por falta de espaço.

Os pequenos trechos de mata não têm como sustentar certos tipos de plantas e animais e se tornam empobrecidos não só em termos de espécies, mas também em processos ecológicos.

Leia o texto que escrevi e saiu na Pesquisa Fapesp de novembro.

05 dezembro 2008

Ventos quânticos e Mozart no Ibirapera

O ciclo de palestras complementar à exposição Einstein, promovido pela revista Pesquisa Fapesp em parceria com o Instituto Sangari, está em seu penúltimo fim de semana.

No dia 6 de dezembro, sábado, às 15h, o físico e pesquisador da Unicamp Yurij Castelfranchi falará sobre "Quando Einstein falhou: a luta contra os moinhos de vento quântico", e Cássio Leite Vieira, físico e jornalista (RJ), sobre "Os gostos e desgostos de Einstein".

No domingo, dia 7, às 11h, será a vez Luiz Davidovich, físico e professor da UFRJ, com a palestra "Einstein, a luz e a matéria".

Castelfranchi vai falar da batalha intelectual de Einstein, ao lado de alguns dos maiores cientistas da época, em busca de uma teoria unitária do funcionamento do universo. Ele pretendia demonstrar que "Deus não joga dados", como ele dizia, e que a física quântica, da qual ele mesmo tinha sido um dos pioneiros, era na verdade uma descrição incompleta, provisória e incoerente do mundo. "Einstein perdeu a batalha contra a física quântica, mas deixou um legado admirável de coerência, honestidade intelectual e paixão", acentua Castelfranchi.

Cássio Leite Vieira mostrará que Albert Einstein, em paralelo à grandiosidade de cientista, era também uma pessoa comum, que gostava de velejar, comer lentilhas com salsicha, fumar cachimbo e de não usar meias. Era também um amante da música, que tocava violino, que só deixou de lado porque disse que não agüentava mais ouvir a si mesmo. Einstein amava Mozart. Seu maior temor era a idéia de um dia ter que prestar o serviço militar. Tinha acesso de raivas e num deles acertou a cabeça da irmã com uma bola de boliche. Já adulto, um de seus maiores temores era um conflito nuclear em escala mundial.

No domingo, dia 7, Davidovich mostrará que as idéias de Einstein resultaram em aplicações hoje rotineiras como o laser. Einstein também ajudou a moldar concepções revolucionárias e contra-intuitivas sobre a luz e a matéria. Ele vai contar de algumas das principais contribuições de Einstein para o entendimento das características quânticas da luz e da matéria: a dualidade onda-corpúsculo, o fenômeno do emaranhamento e o processo de emissão de luz por átomos, cuja compreensão foi fundamental para a invenção do laser.


Entrada franca
Pavilhão Armando de Arruda Pereira (antigo prédio da Prodam), Parque do Ibirapuera, portão 10, São Paulo, SPMais informações: www.revistapesquisa.fapesp.br e www.einsteinbrasil.com.br

03 dezembro 2008

Natureza em gravuras

Para quem estiver em São Paulo, recomendo vivamente ir ver o trabalho da Angela Leite. Ela representa a fauna brasileira em gravuras e desenhos lindíssimos. Veja um pouco aqui.

02 dezembro 2008

28 novembro 2008

Mario Schenberg, filme sobre partículas atômicas e Picasso no Ibirapuera

O ciclo de palestras complementar à exposição Einstein, promovido pela revista Pesquisa Fapesp em parceria com o Instituto Sangari, prossegue no próximo dia 29 de novembro, sábado, às 15h, com as palestras de José Luiz Goldfarb, físico, historiador da ciência e professor da PUC-SP, "Albert Einstein e Mario Schenberg nas fronteiras da ciência no século XX", e de Maria Cristina Abdalla, física e professora da UNESP, sobre o filme "O discreto charme das partículas elementares", que será exibido em seguida.

No domingo, dia 30, às 11h, Arthur Miller", professor emérito de história e filosofia da ciência do University College, Londres, conduzirá a palestra "Como Einstein e Picasso inventaram o século XX".

José Luiz Goldfarb destacará os principais pontos do percurso científico, filosófico, artístico e político do físico brasileiro Mario Schenberg, que Einstein conheceu no Instituto de Estudos Avançados de Princeton, Estados Unidos. Para Goldfarb, Schenberg representa o pensador brasileiro que mais se aproxima de Einstein, não apenas por suas contribuições científicas, como o efeito URCA (confundido como Ultra Radiation Catastrophe, na verdade referência ao Cassino da Urca do Rio de Janeiro), mas também por suas reflexões sobre os fundamentos da ciência e por suas convicções políticas. Além de grandes cientistas, Einstein e Schenberg são dois grandes pensadores e humanistas, preocupados com os destinos da humanidade e do impacto das aplicações do conhecimento científico.
Maria Cristina Abdalla vai contar como seu livro O discreto charme das partículas elementares, publicado pela Editora Unesp em 2006, transformou-se em um filme homônino.O filme apresenta as partículas elementares como os quarks e os léptons, aproximando-as das grandes estruturas do Universo, tem 44 minutos de duração e será exibido em seguida.

Arthur Miller mostrará que o fato de Albert Einstein ter chegado à Relatividade e Pablo Picasso ao cubismo quase simultaneamente, na primeira década do século XX, decorre da vida freqüentemente turbulenta de cada um deles, da busca incessante por idéias novas e da inspiração, vinda de fontes incomuns, que levou a saltos criativos. Miller, que escreveu um livro sobre a genialidade de Einstein e de Picasso, vai também explorar as similaridades da criatividade entre artistas e cientistas.


Entrada franca
Pavilhão Armando de Arruda Pereira (antigo prédio da Prodam), Parque do Ibirapuera, portão 10, São Paulo, SP
Mais informações: www.revistapesquisa.fapesp.br e www.einsteinbrasil.com.br

22 novembro 2008

Einstein deste fim de semana

Educação, Fractais e Buracos Negros no Ibirapuera

O ciclo de palestras complementar à exposição Einstein, promovido pela revista Pesquisa Fapesp em parceria com o Instituto Sangari, prossegue hoje, às 15h, com as palestras de Lino de Macedo, professor de psicologia do desenvolvimento da USP, "Piaget, Einstein e a noção de tempo na criança", e de Carmem Prado, física e professora da USP, "Movimento browniano, Caos e fractais". Amanhã, dia 23, às 11h, George Matsas, físico e professor da Unesp, falará sobre "Buracos negros: rompendo os limites da ficção".


Sábado:

Macedo conduzirá a palestra com base em três objetivos. Primeiro, apresentar problemas sobre tempo (o da espera, do interesse, do esforço e outros) e, por meio deles, refletir sobre significados do tempo e como as crianças os compreendem. Segundo, analisar porque Piaget confirma experimentalmente idéias de Einstein sobre a relatividade do tempo. Terceiro, propor atividades para alunos da Educação Infantil e da Escola Fundamental. Foi Einstein que sugeriu algumas das idéias que Piaget tratou no livro "A noção do tempo na criança".

Carmem Prado apresentará de forma simples e intuitiva o que são os objetos geométricos chamados hoje de fractais, exemplificados pela trajetória descrita por uma molécula em movimento browniano, estudado por Einstein. Ela contará como os fractais saíram do mundo imaginário e nada intuitivo dos matemáticos para entrarem de vez no mundo real, onde estão ligados à idéia de caos. Ela também mostrará como, na evolução dos conceitos científicos, as idéias têm o seu tempo, vão e voltam, reinterpretadas e recolocadas à luz de cada novo contexto experimental e teórico.


Domingo:

Matsas abordará, também de forma descomplicada, o que são, como se formam, quão grandes são e de que são feitos os buracos negros. O que acontece quando algo penetra em seu interior? Podem ser uma ameaça à Terra? Ele também explicará por que buracos negros podem se tornar a porta de entrada para a chamada cidade proibida da física teórica: a gravitação quântica, que deve compatibilizar a relatividade com a física quântica e sobre a qual muito se especula, mas quase nada se sabe.

Entrada franca.

Pavilhão Armando de Arruda Pereira (antigo prédio da Prodam), Parque do Ibirapuera, portão 10, São Paulo, SP

Mais informações: www.revistapesquisa.fapesp.br e www.einsteinbrasil.com.br


20 novembro 2008

Gosto não se discute, mas se estuda!

Por que algumas pessoas gostam de uma comida, enquanto que outras acham horrível?

Isso me intrigou pela primeira vez quando eu era bem pequena: será que quando duas pessoas comem uma mesma coisa elas sentem o mesmo gosto, mas uma acha bom e a outra não? Ou será que elas sentem sensações diferentes, talvez por diferenças em como o cérebro interpreta aquele sabor? Há uns 30 anos tento imaginar um teste para distinguir entre essas hipóteses, sem sucesso. Idéias são bem vindas!


Eis que ouço esta semana, no meu podcast favorito The naked scientists, uma possível resposta. Christian Starkenmann e seus colegas da Firmenich, uma empresa suíça de sabor (o que será isso?) estavam tentando descobrir de onde vinha o gosto que surge na boca depois que se toma um gole de vinho Sauvignon. Parece que o segredo está na bactéria Fusobacterium nucleatum (tirei a foto daqui), que vive na boca e quebra umas moléculas que as nossas enzimas não quebram.

A turma do podcast especulou, não sei se com alguma base, que bactérias podem ser o motivo pelo qual sentimos gostos diferentes. Teria aí um componente herdado - as bactérias que herdamos da mãe desde que nascemos - e outro da experiência de cada um. Não sei se é verdade, mas é uma possibilidade de teste para a pergunta que me atormenta.

Não tem aí nenhum microbiologista a fim de fazer esse estudo? Depois não deixe de me avisar!!!


P.S. Falando em como as bactérias comensais são mais importantes do que se imagina, adorei esse estudo que divulgamos na Pesquisa Fapesp, mostra a importância da microbiota para desenvolver o sistema imunológico.

09 novembro 2008

O telescópio Hubble precisa de reparos

Consertar um telescópio espacial não é moleza. A gente vê essas fotos de astronautas flutuando no espaço, mas para mim a impressão sempre foi de que o pior mesmo é chegar lá.

Não é nada disso. Já imaginou ter que desaparafusar alguns daqueles inúmeros parafusos usando essas luvas espaciais? Sem deixar que nenhum literalmente vá para o espaço ou - pior - caia para dentro do aparelho, o que o danificaria para sempre? Meu vídeo-podcast favorito, o Nova Science Now, mostrou como é difícil no programa "Saving Hubble". Vale a pena ver, para quem se entende com inglês.

Em órbita desde 1990, o Hubble não é um eletrodoméstico descartável. Segundo a Wikipedia, mais de 4 mil artigos científicos foram publicados com base nos dados fornecidos pelo telescópio. "Há 20 anos, antes do Hubble, não sabíamos o tamanho do Universo, nem sua idade; agora sabemos", diz no vídeo Matt Mountain, do Space Telescope Science Institute. "Não sabíamos se buracos negros existiam, agora sabemos que estão por todo lado."

O centro que controla as atividades do Hubble tem modelos em tamanho natural para planejar missões de reparo. E para se aproximar das condições de trabalho sem gravidade, astronautas treinam debaixo d'água. Ali, pelo menos, terão uma segunda chance quando tudo dá errado. E uma terceira, uma quarta - até que descubram como cumprir a missão. Antes disso, a missão de manutenção não se concretizará. O risco de morrer é de um em 70, diz Mountain.


A foto é do site do Hubble.

08 novembro 2008

No mundo das partículas

Quer fazer um passeio entre léptons, bósons, quarks e afins? O livro O discreto charme das partículas elementares, da Física Maria Cristina Abdalla, da Unesp, foi adaptado para a televisão. O programa, com a apresentação de Marcelo Tas, vai ao ar na segunda, 10 de novembro, pela rede Cultura. Às 19:30.

Eu, que sou uma ignorante total dessas tais partículas, estou bem curiosa. Veja trecho no You Tube.

06 novembro 2008

Quinto fim de semana com Einstein

No sábado, física e teatro; no domingo, Einstein no Rio

Sábado, 8 de novembro, 15h
"As contribuições e críticas de Einstein à física quântica", Silvio Chibeni, físico e professor de filosofia da Unicamp

Chibeni tratará das contribuições de Einstein para o desenvolvimento da mecânica quântica: a introdução da hipótese do quantum de luz (1905), a explicação do movimento browniano (1905), a explicação das anomalias nos calores específicos dos sólidos (1906), o desenvolvimento da primeira estatística quântica (1924) e o reconhecimento dos aspectos ondulatórios da matéria (1925).

"Formas de representação do tempo na dramaturgia", Sérgio de Carvalho, diretor teatral e professor da USP

Carvalho vai explorar alguns exemplos sobre formas de representação da passagem do tempo na dramaturgia: o tempo do coro na tragédia grega, as linhas de ação especulares no teatro shakespeariano, o processo do indivíduo no drama, a crise da unidade do drama no fim do século 19 e a conjugação de tempos contraditórios no teatro épico.

Domingo, 9 de novembro, 11h
"Um cientista nos trópicos: a viagem de Einstein à América do Sul", Alfredo Tolmasquim, físico e diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast) do Rio de Janeiro

Tolmasquim vai contar da viagem de Einstein ao Brasil, à Argentina e ao Uruguai em 1925. No Rio de Janeiro, fez palestras para um público diversificado, visitou o Jardim Botânico, o Museu Nacional, o Observatório Nacional e o Pão-de-Açúcar, provou comidas típicas e participou de recepções e jantares. Intensamente noticiada, sua visita gerou debates entre os positivistas, que se opunham às suas idéias, e seus defensores. Por escrito, Einstein deixou um comentário para um jornalista: "O problema que minha mente formulou foi respondido pelo luminoso céu do Brasil".

As palestras são parte da série complementar à exposição Einstein promovida pela revista Pesquisa FAPESP e pelo Instituto Sangari. Em linguagem simples, acessível a um público amplo, físicos e especialistas de outras áreas falam sobre as idéias de Albert Einstein e suas implicações em outros campos, nas tardes de sábado (15h) e nas manhãs de domingo (11h), no auditório que integra a exposição. Entrada gratuita.
Local: Pavilhão Armando de Arruda Pereira – antigo prédio da PRODAM
Parque do Ibirapuera – entrada pelo portão 10

05 novembro 2008

31 outubro 2008

Fotografias do ano

Aceitei a proposta do Carlos Hotta e fui à página do Wildlife Photographer of the Year pra escolher minhas favoritas. Aqui vão.

Quem vai comer quem, a cobra ou a perereca? O embate aconteceu numa floresta em Belize, e quem desistiu primeiro foi o fotógrafo David Maitland, do Reino Unido.



Olhem o penteado desse amigo do fotógrafo italiano Stefano Unterthiner! Ele vive na ilha de Sulawesi, na Indonésia.


Mais um campeão do penteado. O espanhol Ramon Navarro teve que usar artifícios para fotografar de longe. Essas aves exibidas costumam escolher bem o seu alvo de sedução. E não costuma ser fotógrafos...


Adoro corujas-buraqueiras! Ficam olhando com toda a atenção, prontas pra defender seu ninho. Quando eu morava em Rio Claro, eu e o cão Marley tomávamos muitos rasantes desses bichos, que nessas horas faziam de tudo para não ser simpáticos. Esta foi fotografada em Florianópolis por Adriano Ebenriter.

Sou louca por uma boa selva urbana. Londres foi aqui flagrada surgindo das nuvens por Piers Calvert, de máquina em punho enquanto o avião se preparava para encontrar seu caminho em meio à neblina.

O tempo vivido e o tempo da sala de aula

Palestras de 1º. de novembro (15h) exploram as idéias de Einstein na Filosofia e na Educação

"De Galileu a Einstein: do tempo da física ao tempo vivido", Pablo Rubén Mariconda, filósofo e professor da USP

Mariconda mostrará as ligações de Galileu Galilei e Albert Einstein em torno de três aspectos: a questão do tempo físico e da organização espaço-temporal dos eventos naturais; a idéia de relatividade e a caracterização físico-matemática do movimento; a finitude do movimento da luz e a infinitude do Universo. Essas três características no pensamento de Galileu convergem para a concepção relativista de Einstein. Mariconda falará também sobre a aceleração do tempo cultural e suas relações com o tempo da física e com o tempo psicológico (ou vivido).


“É possível produzir um Einstein? Algumas reflexões sobre Einstein e a Educação”, Antônio Augusto Videira, filósofo, pesquisador do CBPF e professor da UERJ

Videira discutirá as idéias de Einstein sobre educação de jovens e crianças – muitas delas opostas ao pensamento dominante – e as possibilidades de educação e formação dos físicos atualmente. Ao longo da apresentação, ele antecipa, “procurarei refletir sobre a seguinte pergunta: poderiam as idéias de Einstein ser aplicadas com sucesso em nosso tempo?”


Entrada gratuita,

Pavilhão Armando de Arruda Pereira – antigo prédio da PRODAM (ao lado da exposição "Einstein")

Parque do Ibirapuera – Portão 10

Av. Pedro Alvares Cabral, s/nº

29 outubro 2008

Ciência é ficção?

"A imaginação é mais importante que o conhecimento" disse Albert Einstein.

Fiquei pensando nisso quando ouvi uma entrevista (em inglês) com os criadores da nova ópera "Doctor Atomic", que está em cartaz em Nova York. Trata realmente da confecção da bomba atômica, o personagem principal é o Robert Oppenheimer.

Quando perguntaram à diretora da ópera, Penny Woolcock, como era fazer um espetáculo sobre ciência - ela que não tem conhecimentos na área, ela respondeu o seguinte. Ela aprendeu o que precisava sobre ciência porque um ex-sogro dela é Nobel de química. Convivendo com ele, ela descobriu que a ciência na verdade não é muito diferente da arte. As grandes descobertas são inspiração, dependem sobretudo de criatividade. No início. Depois tem muito trabalho para verificar se é isso mesmo.

Me senti um pouco redimida, quando eu estava no doutorado um dia concluí que querer ser cientista por motivos poéticos não podia ser lícito.

O Luís Fernando Veríssimo escreveu lindamente (e divertidamente) a mesma coisa que a Penny disse, vejam.


Encontros e Desencontros (Zero Hora, 18/03/2007)

Einstein morreu e, assim que chegou ao céu, Deus mandou chamá-lo.

- Einstein! - exclamou Deus, quando o viu.
- Todo-Poderoso! - exclamou Einstein, já que estavam usando sobrenomes. E continuou: - Você está muito bem para uma projeção antropomórfica do monoteísmo judaico-cristão.
- Obrigado. Você também está com ótimo aspecto.
- Para um morto, você quer dizer.
- Eu tinha muita curiosidade em conhecê-lo - diz Deus.
- É mesmo?
- Juro por Mim. Há anos que espero esta chance.
- Puxa...
- Não é confete, não. É que tem uma coisa que Eu queria lhe perguntar..
- Pergunte.
- Tudo que você descobriu foi por estudo e observação, certo?
- Bem...
- Quer dizer, foi preciso que Eu criasse um Copérnico, depois um Newton, etc., para que houvesse um Einstein. Tudo numa progressão natural.
- Claro.
- E você chegou às suas conclusões estudando o que os outros tinham descoberto e fazendo suas próprias observações de fenômenos naturais. Desvendando os meus enigmas.
- Aliás, parabéns, hein? Não foi fácil. Tive que suar o cardigan.
- Obrigado. A gente faz o que pode. Mas a teoria geral da relatividade...
- Sim?
- Você tirou do nada.
- Bem, eu...
- Não me venha com modéstia - interrompeu Deus. - Você já está no céu, não precisa mais fingir. Você não chegou à teoria geral da relatividade por observação e dedução. Você a bolou. Foi uma sacada, é ou não é?
- É.
- Maldição! - gritou Deus.
- O que é isso, Todo-Poderoso?
- Não se escapa da metafísica. Sempre se chega a um ponto em que não há outra explicação. Eu não agüento isso!

- Mas...
- Eu não agüento a metafísica!

Einstein tentou acalmar Deus.
- A minha teoria ainda não está cem por cento provada.
- Mas ela está certa. Eu sei. Fui Eu que criei tudo isto.
- Pois então? Você fez muito mais do que eu.
- Não tente me consolar, Einstein.
- Você também criou do nada.
- Eu sei! Você não entendeu? Eu sou Deus. Eu sou a minha própria explicação. Mas você não tem desculpa. Com você foi metafísica mesmo.
- Desculpe, eu...
- Tudo bem, tudo bem. Pode ir.
- Tem certeza que não quer que eu...
- Não. Pode ir. Eu me recupero. Vai, vai.

Quando Einstein saiu, viu que Deus se dirigia ao armário de bebidas.

Luis Fernando Veríssimo

(tirei daqui)

A foto (pequena, pena...) é do dream science circus


Isto é parte da discussão em curso no roda de ciência.
Comentários aqui, por favor

24 outubro 2008

Reciclagem da vida

O tema do Congresso de Genética este ano foi evo-devo, a junção entre evolução e desenvolvimento embrionário. É uma área fascinante que tenta entender como a natureza constrói as formas mais diversas a partir dos mesmos elementos.


Aproveitei para ver um monte de palestras e montar uma matéria, leia aqui. Se quiser mais, tem também o ótimo texto (em inglês) do PZ Myers na Seed.

Tirei o dinossauro de Lego daqui.

22 outubro 2008

Sábado com Einstein, o político

Palestras da série Einstein no dia 25, às 15 h, aproximarão Relatividade, índios sul-americanos e direitos civis

"Pluralismo e relativismo nas sociedades humanas: o impacto das idéias de Einstein"
Mauro William Barbosa de Almeida, antropólogo e professor da Unicamp, mostrará como as idéias de Einstein tiveram um impacto profundo não só na Física e na Filosofia do século XX, mas também no modo de ver a diversidade social do mundo moderno. Segundo Almeida, a substituição de um espaço e de um tempo absoluto por uma pluralidade de espaços e de tempos relativos a distintos observadores serviu de inspiração para antropólogos que descreveram muitos modos de ver e viver o tempo e o espaço em sociedades não-ocidentais. O relativismo cultural de antropólogos, porém, como Almeida comentará em sua apresentação, costuma esquecer um aspecto essencial da relatividade em Einstein: o fato de que sob a diversidade de tempos e espaços de observadores distintos perpassa a unidade profunda das leis da natureza. Almeida apresentará essas idéias com exemplos como o perspectivismo dos índios sul-americanos, que relativizam a oposição entre seres humanos e animais selvagens.

"O dossiê Einstein no FBI: a documentação de sua luta pelos direitos civis"
Olival Freire, historiador da ciência e professor da UFBa que em 2005 escreveu que "a imagem pública de Einstein fica incompleta sem sua atividade política", falará do cientista que criou a Teoria da Relatividade, enviou uma carta em 1914 ao presidente Roosevelt defendendo a construção da bomba pelos Estados Unidos, manifestou-se contra a discriminação racial nos Estados Unidos e apoiou a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos.

16 outubro 2008

Segundo Fim de Semana com Einstein

A revista Pesquisa FAPESP e o Instituto Sangari organizam uma série de palestras e debates complementares à exposição Einstein, que segue até o dia 14 de dezembro no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Em linguagem simples, acessível a um público amplo, físicos e especialistas de outras áreas – cinema, sociologia, filosofia, neurologia e história da ciência, entre outras – vão falar sobre as idéias de Albert Einstein e suas implicações em outros campos, no auditório que integra a exposição.
Entrada gratuita.

Sábado, 18 de outubro, 15h
"Espaço, tempo e éter na teoria da relatividade", Roberto Martins, físico, historiador da ciência e professor da Unicamp.
Roberto Martins falará sobre as diferenças entre os conceitos de espaço e tempo absolutos, sua relação com a concepção de um éter que preencheria todo o espaço, as mudanças ocorridas nos conceitos de espaço e tempo na teoria da relatividade especial, a postura de Einstein frente ao éter na fase da teoria da relatividade especial, depois sua mudança de atitude, quando foi criada a relatividade geral, e seu retorno ao éter em 1920.

Domingo, 19 de outubro, 11 horas
"A preparação de Einstein para o seu ano miraculoso", Carlos Alberto dos Santos, físico, professor da UFRGS e colunista de Ciência Hoje Online
Carlos Alberto dos Santos mostrará o longo caminho que Einstein percorreu para chegar ao seu Ano Miraculoso (1905), quando publicou artigos científicos que mudariam a física. Não foi obra de uma genialidade momentânea, mas de uma trajetória intelectual que começou aos 4 ou 5 anos quando o menino Albert admira o comportamento de uma bússola – aos 12, demonstra, sozinho, o Teorema de Pitágoras.

11 outubro 2008

No centro do universo

Em Panorama visto do centro do universo, o cosmólogo Joel Primack e a escritora e filósofa de ciência Nancy Abrams chamam atenção para a posição do ser humano no cosmos. Estamos no meio dele, na metade do tempo de vida do universo e somos feitos do material mais raro que há: poeira de estrelas.

O texto acessível e acolhedor conduz o leitor pelos confins e pela história do Universo, em três partes. A primeira descreve cosmologias antigas, como a que vigorava na Idade Média. A segunda expõe o estado da arte do conhecimento sobre o Universo, sempre com metáforas que tornam a teoria mais palpável. Estão aí conceitos como inflação cósmica, matéria escura e energia escura. Na terceira parte o casal de autores discute como usar esse conhecimento para reconstruir uma cosmologia que nos conecte de volta ao universo.

É com base nessa ciência e na necessidade de mitologias para nos situarmos de maneira efetiva e duradoura em nosso mundo que Primack e Abrams propõem uma cosmologia atualizada, baseada numa compreensão do universo que só os conhecimentos mais recentes permitem atingir. Que, esperam, nos ajudará a tomar responsabilidade por este planeta que a própria atividade humana pôs em perigo.


Se quiser mais, veja o
site dos autores. Foi de lá que tirei a imagem das esferas cósmicas do tempo.


Panorama visto do centro do universo - a descoberta de nosso extraordinário lugar no cosmos

Joel R. Primack e Nancy Ellen Abrams

Companhia das Letras, 2008

Tradução: eu

R$ 59,00

07 outubro 2008

Primeiro Fim de Semana com Einstein

A revista Pesquisa FAPESP e o Instituto Sangari organizam uma série de palestras e debates complementares à exposição Einstein, aberta para visitação até o dia 14 de dezembro no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Em linguagem simples, acessível a um público amplo, físicos e especialistas de outras áreas – cinema, sociologia, filosofia, neurologia e história da ciência, entre outras – vão falar sobre as idéias de Albert Einstein e suas implicações em outros campos, nas tardes de sábado e nas manhãs de domingo, no auditório que integra a exposição. Entrada gratuita.


Aos sábados, as mesas-redondas exploram o tema O tempo em dois tempos. Nelas, um físico e um pesquisador das ciências humanas falam e conversam sobre a noção do tempo e do espaço em suas especialidades. Aos domingos, na série Muito além da relatividade, físicos e escritores especializados em física do Brasil e do exterior abordam aspectos pouco conhecidos sobre a vida, o contexto histórico e a obra de Einstein.

Sábado, 11 de outubro, 15h

"O Difícil Legado de Einstein", com Carlos Escobar, físico e professor da Unicamp
Carlos Escobar mostrará que Einstein, além de um trabalho que guia a física ainda hoje, deixou desafios científicos enormes: a idéia de um espaçotempo dinâmico e a idéia de que teorias podem ser formuladas por meio de argumentos de consistência interna, muitas vezes sem ser necessário que resultados experimentais sugiram caminhos específicos para sua formulação. Outro legado de Einstein diz respeito ao papel do cientista na sociedade. "Einstein nos deixou um padrão muito elevado de compromisso social, humanismo e espírito crítico que faz com que os cientistas hoje pareçam apenas pequenas peças numa grande máquina", diz Escobar. "Quem tem a grandeza intelectual e moral para rebelar-se contra isto?"

"Mudando o modo de ver o mundo: indivíduos e 'Zeitkontext' ou como o movimento Browniano modificou o modo de fazer ciência", com Peter Schulz, físico e professor da Unicamp
Autodenominado historiador totalmente amador, Peter Schulz contará como Albert Einstein explicou um fenômeno observado 80 anos antes – o movimento browniano –, fundamental na verificação experimental da existência dos átomos, que ainda não era totalmente aceita no início do século XX. Schulz mostrará também como o contexto de época – o "Zeitkontext" do título da palestra – pode atrasar o desenvolvimento científico em geral e especificamente uma atividade ligada ao estudo do movimento browniano que amadureceu 80 anos depois – a nanotecnologia.

Mediador: Marcelo Leite, jornalista e colunista da Folha de S.Paulo, que lançará seu livro mais recente, Ciência: use com cuidado (Editora da Unicamp), após as palestras.


Domingo, 12 de outubro, 11 horas

"Einstein Inventor", com Nelson Studart, físico e professor da UFSCar
Além de inventor, Einstein foi engenheiro e consultor. Aos 15 anos já se envolvia na solução de problemas técnicos com engenheiros. Depois criou a "Maquininha" como ele chamava sua primeira e única tentativa de projetar um equipamento para testar sua teoria sobre o movimento browniano. Como consultor de uma empresa de fabricação de aviões, a LGV, projetou uma asa para avião militar na Primeira Guerra Mundial. Para evitar o vazamento de gases tóxicos e reduzir o barulho dos refrigeradores da época, colaborou no desenvolvimento de um protótipo que foi construído em 1931 pela empresa AEG, mas a máquina nunca foi comercializada. Nelson Studart também apresentará as patentes requeridas por Albert Einstein em colaboração com outros inventores de 1928 a 1936 – a última foi uma câmara fotográfica com intensidade de luz auto-ajustável.
veja programa completo aqui

04 outubro 2008

Livro que recomendo

"O canto do dodô, se é que ele cantava, permanecerá para sempre desconhecido, pois nenhum ser humano que tenha deixado um testemunho deu-se ao trabalho de se sentar nas floresta de Maurício e abrir os ouvidos", escreve David Quammen em O canto do dodô, recentemente publicado pela Companhia das Letras. O que essas aves extintas deixaram foi um alerta sobre como a ocupação humana altera o mundo de forma irremediável.

Quammen vez e outra aparece por este blogue. Porque tenho a sorte de me envolver profissionalmente com os livros publicados por aqui, mas sobretudo porque tudo o que leio dele me fascina. Foi o caso do
Monstro de Deus, que traduzi. E da bela biografia do Darwin.

"É provável que você ainda não tenha ouvido o que os cientistas andam murmurando sobre o decaimento dos ecossistemas. E é igualmente provável que saiba pouco ou nada sobre uma disciplina aparentemente marginal conhecida como 'biogeografia de ilhas'". Quase oitocentas páginas depois, o leitor não só ouviu falar dessas coisas como entendeu e se encantou.

Quammen percorre e investiga ilhas, buscando entender as particularidades da evolução e da extinção nesses pedaços isolados de terra. E chega à Amazônia e à Mata Atlântica, onde o desmatamento na prática transforma a floresta em arquipélago. Vivemos em plena onda de extinções, comparada por especialistas ao meteoro que deu cabo dos dinossauros. Desta vez o meteoro tem nome: Homo sapiens.

Peguei o desenho aqui.

O canto do dodô - biogeografia de ilhas numa era de extinções
David Quammen

Tradução: Carlos Afonso Malferrari

792 páginas
Companhia das Letras
R$ 88,00

03 outubro 2008

Interlúdio doméstico


Quem quer um golden retriever?

23 setembro 2008

Tecnologia versus ciência

As ferramentas de que cientistas hoje dispõem chegam a parecer ficção científica. Na semana passada estive no congresso de genética, em Salvador, e me maravilhei com lindas imagens de embriões em que as células nas quais determinado gene estava em ação emitiam um brilho verde. Ou de outras cores. E muito mais que evoca as maravilhas que a tecnologia faz pela ciência.

Estava preparada para isso, mas não para algo que para mim se tornou o grande tema involuntário do congresso: a tecnologia atrapalha a ciência.

A revelação veio logo na sessão de abertura, nas palavras do homenageado Fábio de Melo Sene (discordo do Carlos. Achei o discurso inspirador e me comovi com a reunião familiar que o congresso promoveu num momento que costuma ser formal e pomposo). Pesquisador da USP de Ribeirão Preto, Sene dedicou sua vida a estudar a evolução de drosófilas. As pobres moscas são tão conhecidas em laboratórios e fruteiras que muita gente nem se dá conta de que existem inúmeras espécies de drosófilas na natureza, sujeitas à seleção natural e tudo. Nos seus estudos, como entender a evolução exige, Sene reuniu ecologia, geomorfologia, zoologia, biogeografia, etc.

Formou pesquisadores, ajudou a desenvolver o campo da evolução na biologia brasileira. Até que, nas palavras dele, a genética de populações entrou em crise "devido ao caos dos marcadores moleculares que inviabilizaram o enfoque em populações". Ou seja, segundo ele as pessoas passaram a seqüenciar DNA loucamente e deixaram de pensar. Passaram a limitar-se a revisões da classificação dos seres vivos e submergiram numa confusão conceitual, sem saber a diferença entre padrões e processos evolutivos. Ele lamentou que ainda agora o ensino de evolução nos cursos de biologia é muito deficiente.

No dia seguinte entrevistei o Philip Hanawalt, norte-americano da universidade Stanford que teve e tem um papel central nos estudos sobre reparo de DNA. Qual não foi a minha surpresa quando ele contou que já lhe aconteceu de ser procurado por aluno que queria simplesmente clonar um gene - sem saber por que nem ter um questionamento científico. Ele me disse que muitas das descobertas mais importantes saíram de uma boa idéia e um experimento simples, com pouca tecnologia. E é isso que ensina aos alunos: formule a pergunta que quer responder e pense na maneira mais simples de ir atrás da resposta.

Ao longo dos três dias de congresso ouvi a mesma queixa várias vezes, de pessoas diversas, de maneira independente. A tecnologia ajuda, não há dúvida. Mas há que saber usá-la, quando usá-la e por quê. A máquina mais espantosa já feita ainda está dentro do crânio de quem escreve e de quem lê blogues.

Peguei o pensador do Rodin aqui.

Este texto é parte da discussão de setembro no roda de ciência.
Comentários aqui, por favor.

13 setembro 2008

Gente que faz ciência

Uma roqueira de 32 anos que nasceu no Irã mas vive nos Estados Unidos desde os dois anos de idade, quando a família fugiu da revolução e recomeçou a vida do zero, e é geneticista na Harvard! Na verdade, dirá ela, uma cientista que nas horas vagas compõe, toca e canta. Vi um vídeo da Nova Science Now (em inglês) com o perfil da Pardis Sabeti e virei fã. Algum dia espero entrevistá-la.

Segundo o vídeo, a grande contribuição dela para os estudos de genética foi sacar como escrutinar a seqüencia do DNA humano em busca de mutações que tragam alguma vantagem adaptativa. Ela agora está usando esse enfoque para estudar mecanismos de resistência à malária.

Se ela tivesse que escolher entre música e ciência, ficava com a segunda. Porque fazer ciência é emocionante, é desafiante. O júbilo da descoberta, de que o Carlos Hotta também andou falando, é uma sensação inigualável.

Peguei a foto no site da banda dela.

Que viva o Cerrado




Semana passada comemorou-se - ou lamentou-se - o dia do Cerrado. Foi no dia 11 de setembro.
Fiquei sabendo da efeméride pelo
Bafana Ciência, e o Marcelo Leite comentou também. Não resisto a deixar aqui minha homenagem a uma paisagem que me emociona profundamente a cada visita. Algumas impressões, com súplicas por uma longa vida. Porque ele é muito mais especial como ecossistema único do que como fronteira agrícola.

Porque são árvores retorcidas e campos que não só resistem às queimadas naturais, mas tiram daí sua força. E explodem em flor depois do fogo. Troncos negros, por fora carvão. E flores de todas as formas e cores. Algumas delas são sempre-vivas e, por isso mesmo, correm o risco de virar arranjo nos mercados turísticos de Brasília. Raízes que buscam água nas profundezas do solo, lá onde ela abunda mesmo nos longos períodos de seca.

Porque ali cavam tatus, araras se instalam em ocos dos buritis, lobos-guará - com suas longas pernas elegantes e seu ar paciente - percorrem quilômetros sem fim (quando os há) em busca de frutos e pequenos insetos. Onde os filhotes de tamanduá se disfarçam na listra que cruza o dorso da mãe e emas se parecem com arbustos em meio ao campo. E tantos bichos mais que ajudam a tornar o Cerrado um dos hotspots de biodiversidade do mundo.

Porque o céu azul profundo e a luz dourada. Porque as folhas rígidas, muitas vezes peludas, estão prontas para resistir a tudo. Não contavam com tratores, mas ainda torço por elas.
As fotos são quase todas do João, talvez alguma minha. Recomendo também as belas imagens do Rafael.

11 setembro 2008

Mar doente

A área do banco de corais de Abrolhos, ao longo da costa do sul da Bahia e norte do Espírito Santo, é muito maior do que se pensava.


A descoberta vem das explorações do fundo do mar feitas por uma equipe que reúne pesquisadores da Conservação Internacional do Brasil e de diversas universidades. Além disso se insere na CReefs, uma iniciativa internacional para catalogar a biodiversidade de todos os oceanos.

Neste momento eles estão lá, a bordo do barco de pesquisa, incansavelmente mapeando o fundo do mar, encontrando novidades e, se preciso (e se possível), mergulhando para investigar mais de perto.

A descoberta abre as portas de um mundo de maravilhas, mas as notícias não são boas. Muitos dos corais-cérebro típicos da região estão atacados pela praga branca, como o da foto de autoria de Ronaldo Francini-Filho, da Universidade Estadual da Paraíba. Além disso, a pesca em ampla escala já causou modificações importantes numa cadeia alimentar em que os maiores peixes se tornam raros. Peixe grande que não escasseia, só o bicho-homem...

A boa notícia é que os planos vão além de explorar a nova área descoberta - quase que um novo continente. Até o fim do ano, a equipe multidisciplinar pretende traçar metas e estratégias de conservação para Abrolhos. Leia mais na edição de setembro de Pesquisa Fapesp, ou aqui.

03 setembro 2008

Discussões na roda

Está no ar a eleição para o próximo tema de discussão no roda de ciência.
Que tal exercer a democracia e participar?

17 agosto 2008

Sem pernas

A foto ao lado é de uma cena triste da corrida dos 3 mil metros com barreiras, hoje nas olimpíadas de Pequim. No final da prova a espanhola Marta Domínguez deu um pique muito forte em busca do pódio mas acabou tropeçando numa barreira. Um mico olímpico, segundo o site globo esporte (onde achei a foto rotulada).

O que me impressionou foi que, quando ela tentou se levantar, as pernas não obedeciam. Mesmo com ajuda, num primeiro momento ela não tinha como ficar de pé e caminhar. E não parecia cansaço, os músculos simplesmente pareciam contrair e relaxar independente da vontade da atleta.

Não tenho como saber se foi o caso, mas me lembrou a matéria que escrevi para a edição de agosto (agora nas bancas) da Pesquisa Fapesp. Se trata da pesquisa do pneumologista da Unifesp Alberto Neder, que vem mostrando o que acontece quando pulmões e pernas competem por oxigênio.

16 agosto 2008

Frenesi de Marte

Nasa

Acho um pouco assustadora toda a especulação que circula quanto aos achados em Marte. É interessante saber se há vida por lá, ou possibilidade dela. Seria um prato cheio para evolucionistas, analisar como é uma vida surgida independentemente da que temos por aqui. Seria como voltar a fita da evolução, como dizia o Stephen Jay Gould acho que no Vida maravilhosa.

Mas às vezes parece que as expectativas são outras, como se fôssemos ver marcianos brincando de esconde-esconde com a sonda fênix. Na semana retrasada a Nasa anunciou que encontrou sais chamados percloratos, que podem ter efeito oxidativo - ou seja, destruir certas moléculas - ou possibilitar vida por ser fonte de oxigênio. Dizia o comunicado que os cientistas ainda não sabiam se o achado era positivo ou negativo para a possibilidade de vida em Marte. Isso se a amostra analisada fosse representativa do resto do planeta.

A Nasa fez a opção, dizem eles, de mostrar ao público a ciência em ação. Assim, afirmam que noticiam logo todas as descobertas feitas, antes mesmo de serem de fato estudadas. Comunicados e fotos aparecem periodicamente no site deles.

Eis que leio uma matéria por aí dizendo que os cientistas da Nasa afirmam que o perclorato é muito promissor para que se encontre vida em Marte, ou algo que o valha. E que bactérias terráqueas que resistem até a explosões nucleares devem existir em Marte. Essas bactérias sugerem que a vida seria possível nas condições que existem em Marte, mas isso não quer dizer que elas estejam lá. O que quer que haja lá surgiu independentemente do que há aqui e não há indícios de que seria parecido. A não ser que tenha ido de carona na fênix.

Tentei baixar um pouco a bola da histeria marciana no programa "Pesquisa Brasil" da semana passada.

09 agosto 2008

Mais podcast


Custou muita insistência, mas agora é possível assinar o programa de rádio "Pesquisa Brasil", parceria entre a revista Pesquisa Fapesp e a rádio Eldorado, como podcast.

O programa passa todo sábado às 11 da manhã (e de vez em quando estou eu lá fazendo comentários), e no início da semana vai para o site da revista, onde é possível ouvi-lo. Programas antigos estão também arquivados.

Se você usa itunes ou similar, basta colar o url do rss na janelinha onde se assina podcasts.

06 agosto 2008

Novo tema no roda de ciência

Um novo tema está em votação no blogue "roda de ciência". Para quem não conhece: é um ponto de encontro bloguístico onde participantes escrevem sobre um mesmo tema a cada mês - e discutem.

A discussão está aberta para quem se interessar sobre o tema, passe lá e palpite! O blogue está também de portas abertas para novos participantes, basta dizer.

Participante ou não, passe lá e vote no próximo tema.

01 agosto 2008

Pelos bares da Malásia

Com esses olhos alertas, as tupaias da Malásia, da espécie Ptilocercus lowii (foto ao lado, de Annette Zitzmann - co-autora do trabalho), enganam. Não só são notívagas, como beberronas. Passam em média 138 minutos por noite lambendo as flores da palmeira Eigeissona tristis. O sistema de produção de néctar e pólen dessas plantas é peculiar - o néctar abundante passa um bom tempo fermentando e chega a um teor alcóolico de 3,8% - o mais alto já encontrado na natureza, semelhante a algumas cervejas. Em entrevista para o podcast "Science in action", da BBC, o coordenador da pesquisa Frank Wiens, da universidade alemã de Bayreuth, disse que a quantidade de néctar que as tupaias consomem é como se uma pessoa tomasse 8 taças de vinho por noite!

Apesar de consumirem uma grande quantidade de álcool para suas 50 gramas de corpo, as tupaias não saem trocando pernas (veja
vídeo). E não são as únicas. O grupo de pesquisadores sentiu o cheiro familiar de uma cervejaria perto da planta e observou ao todo sete espécies de mamíferos que se refestelam com o festim etílico da palmeira - mas poucos tão boêmios quanto a tupaia. Outra espécie que se destaca é o lóris-lento (Nycticebus coucang, foto abaixo, daqui), que restringe suas noitadas no bar a 86 minutos em média. Talvez a lentidão que lhe dá nome seja cautela, para não dar bandeira (vídeo aqui). O artigo foi publicado na semana passada na revista PNAS, da Academia de Ciências dos Estados Unidos.

O assunto andou nas notícias e não me chamou a atenção só pela simpatia de bichos bebuns em tempos de lei seca. Também deixou de cabelos em pé esta que já foi estudiosa de mamíferos e mantém a preferência. As tupaias, também conhecidas como musaranhos-arborícolas, apareceram pela mídia como roedores. Não posso me furtar ao protesto: estão muito longe de roedores!

Para não deixar dúvidas, ponho aqui uma
filogenia dos mamíferos, abaixo (do Tree of Life) - observe como uma árvore genealógica. As tupaias, que aparecem como "Scandentia", são na verdade mais aparentadas aos primatas do que aos roedores ("Rodentia"). Os lórises são prossímios, incluídos no ramo dos primatas junto com os lêmures. A confusão não vem só da nossa ignorância dessa fauna do sul e sudeste da Ásia: na Malásia, a palavra tupai indica tanto esquilos (esses sim roedores) como tupaias. Outra confusão surge do termo "musaranho-arborícola". Musaranhos propriamente ditos também não têm muito a ver com as tupaias (aparecem como "Insectivora" na árvore).



É exatamemente por serem quase primatas que o alcoolismo das tupaias é interessante. O próximo passo é entender em detalhes o que na fisiologia delas - e dos lórises lhes permite ingerir tanto álcool sem sofrer as conseqüências motoras - sem falar em ressacas. O interesse maior dos pesquisadores é mesmo compreender a evolução desse aspecto da fisiologia, e porque nós ficamos alegres com uma fração do álcool que as tupaias encaram sem achar que é mais do que uma refeição. Mas pode até, quem sabe, vir a ser útil para tratar dependência alcóolica.

Semana da amamentação - blogagem coletiva

Quando, semana passada, comentei um artigo que falava de amamentação, não sabia que a Semana Mundial da Amamentação estava próxima. Começa hoje.

Fiquei sabendo ao abrir a Folha de S.Paulo hoje de manhã e ver que no Brasil, as crianças ganham amamentação exclusiva por dois meses em média. Os dados estão no relatório da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS), promovido em 2006 pelo Ministério da Saúde, que promove esta semana uma campanha pela amamentação.

Dois meses é pouco. A Organização Mundial da Saúde recomenda que nos primeiros seis meses de vida o leite materno seja a única fonte de amamentação. A partir daí começam as papinhas, mas o ideal é manter alguma amamentação até os dois anos de idade. Haja peito...

Além das vantagens de saúde, ouvi recentemente que bebês amamentados têm paladar mais diverso. Foi no meu podcast favorito, The naked scientists. Um estudo na Dinamarca (veja aqui) demonstrou que sabores do que a mãe come realmente passam para o leite. Isso pode ter grande influência em aumentar o repertório do paladar do bebê. Parece que crianças restritas a leite industrializado mais tarde se tornam mais frescas para comer...

Agora fiquei sabendo, pelo "uma malla pelo mundo", que o blogue "síndrome de estocolmo" está promovendo hoje uma blogagem coletiva sobre amamentação. Fica aqui a referência.

30 julho 2008

(R)Evolução genômica

Pesquisador de renome internacional, Michael Lynch publicou no ano passado, nos Estados Unidos, o livro The Origins of Genome Architecture, ainda sem tradução em português. É sobre isso que o evolucionista da Universidade de Indiana falará na última palestra da programação cultural da exposição Revolução Genômica.

A palestra “Genomas e evolução”, com entrada franca, foi adiada para as 18 horas do dia 4 de agosto, e se realizará excepcionalmente no auditório do Centro de Estudos do Genoma Humano, dentro do campus da Universidade São Paulo (USP), rua do Matão, travessa 13, no 106.

A programação cultural da mostra Revolução Genômica está a cargo da revista Pesquisa FAPESP. A cobertura completa das palestras pode ser acompanhada no site da revista
.

O auditório tem espaço limitado, por isso é preciso fazer a inscrição: aqui,
clicando em Atividades Culturais, ou pelo telefone 3468-7400 das 8 às 18h.

Michael Lynch é professor na Universidade de Indiana e em sua pesquisa integra genética, ecologia e evolução. No livro publicado em 2007 ele mostra como o seqüenciamento dos mais variados organismos transformou o campo de estudos da evolução e permite entender como surgiu a diversidade arquitetônica dos genes e do material genético. Lynch apresentará ao público paulistano as idéias que desenvolveu em seu livro, considerado por especialistas como uma contribuição importante para a área evolutiva. Ele promete mostrar atualizações interessantes e discutir a relação entre a complexidade dos genomas e dos organismos.

23 julho 2008

Quem mama direto da fonte fica mais inteligente

Amamentar - sem nenhum outro suplemento alimentar - por mais tempo melhora o desenvolvimento cognitivo das crianças. É o que diz um artigo (com acesso restrito) publicado em maio na revista Archives of General Psychiatry.

A conclusão vem de um experimento feito por um grupo de pesquisadores do Canadá e da Bielorrússia, integrantes do Probit (Promotion of Breastfeeding Intervention Trial - Experimento de intervenção em promover a amamentação). Em 31 maternidades bielorrussas, o grupo avaliou mais de 17 mil bebês em fase de amamentação e seguiu quase 14 mil deles (81,5%) até os 6 anos e meio. Metade das mães passou por uma campanha para estimular amamentação desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde e pela Unicef. A outra metade teve o apoio normal dado pelas maternidades.

A intervenção foi responsável por um grande aumento na amamentação exclusiva aos 3 meses de idade e as mães tenderam a amamentar, em alguma proporção, por mais tempo.

Quando as crianças tinham 6,5 anos de idade, os pesquisadores avaliaram sua capacidade cognitiva e desenvolvimento verbal. As diferenças - em QI, vocabulário, capacidades lingüísticas e matemáticas - foram pequenas, mas favoreceram invariavelmente o grupo estimulado à amamentação.

Não é necessariamente o leite. O artigo considera explicações alternativas, como mudanças epigenéticas causadas pelo contato mais íntimo e prolongado entre mãe e bebê, que pode ter efeitos fisiológicos que acelerem o desenvolvimento neurocognitivo. Além disso, a conversinha da mãe enquanto amamenta pode ajudar a desenvolver as capacidades lingüísticas.

As diferenças são sutis, não é ainda a prova cabal de que restringir um bebê ao leite materno nos primeiros meses e amamentar por um tempo prolongado realmente afeta o desenvolvimento cognitivo. Mas é uma sugestão interessante, que a meu ver merece ser considerada e mais estudada.


19 julho 2008

Carvão para o Uruguai

Hoje a Folha de S.Paulo deu que o governo brasileiro permitiu a construção de uma usina a carvão no Rio Grande do Sul, para gerar energia para o Uruguai. Andei vendo uns vídeos arrepiantes sobre usinas a carvão nos Estados Unidos (a da foto é na Alemanha, tirada do Wikimedia) e fiquei de cabelos em pé com a notícia.

Os vídeos (em inglês) divulgados pelo terra são trechos do documentário "Burning the future: coal in America" (Queimando o futuro: carvão nos Estados Unidos), cujo site traz um monte de informações (que não tive tempo de ler...).

O que vi já basta para assustar. Responsáveis por um quarto das emissões de gás carbônico do mundo, os Estados Unidos tiram metade de sua energia do carvão. A extração do minério é terrivelmente destruidora (explosões espetaculares que transformam topos de montanhas em um tanto de entulho) e insalubre. Como se não bastasse, as drásticas mudanças na conformação do terreno acabam causando enchentes e outros transtornos ambientais para quem vive em torno.

Há um tal carvão limpo, mas a limpeza se refere a menos partículas metálicas jogadas ao ar. O gás carbônico, ou CO2, um dos responsáveis pelas mudanças climáticas globais, continua lá. Edison Lobão, ministro das Minas e Energia, afirma que a usina que será construída em território brasileiro usará tecnologia 40% mais cara que reduz as emissões de
CO2.

Reduz? Em tempos onde são necessárias medidas drásticas para tentar minimizar nosso impacto sobre a Terra, é hora de construir novas usinas para queimar combustíveis altamente poluentes? Carvão é dos que mais emitem
CO2, reduzir não significa que será pouco. Além disso, o investimento será mesmo feito?

Jogo as dúvidas aqui na torcida para que alguém que sabe mais do que eu sobre o assunto apareça para me esclarecer. Por enquanto (romântica?), sonho em ter minha casa e meu carro revestidos por painéis solares, quem sabe uns cataventos nas encostas... É hora de investir em desenvolver tecnologias realmente limpas, em vez de despejar dinheiro para afundar o mundo de vez.