14 julho 2006

Nós e a natureza

Quando eu era pequena, li em algum lugar sobre como o homem branco tinha destruído grande parte da natureza. Chorei por não ser índia, eu fazia parte dos vilões.

Lembrei disso após ver "O homem urso", de Werner Herzog. Está em cartaz em São Paulo, aqui em Rio Claro não. Mas vale a viagem, para quem não mora em alguma cidade grande.

Tim Threadwell foi muito mais longe do que eu. Ele não se adaptava à vida entre os homens, e queria ser selvagem. De preferência urso. E urso-grizzly, o mais selvagem de todos.

O filme é composto em grande parte por trechos de filmagens feitas pelo próprio Threadwell, durante seus anos de veraneio entre os ursos do Alasca. Para mostrar ao público - principalmente crianças - a beleza desses animais, o homem-urso gravou centenas de horas da vida dos ursos e da sua entre eles, com narrações para a câmera.

Ele se aproxima dos animais muito mais do que deveria, e explica que tem que se impor para sobreviver ali. Como não conseguiu se impor entre seus companheiros de espécie, o que podemos somente supor através das entrevistas filmadas pelo diretor Herzog.

Será que seu amor aos animais não passava de "naturebismo romântico", como disse Ana Claudia recentemente no Via Gene? Acho que tinha isso, mas também mais - uma alma perturbada mesmo, sem encontrar lugar no mundo. Acabou indo buscar a companhia daqueles que nunca o aceitariam - até o extremo de devorá-lo.

Saí do cinema angustiada com aquele homem. Com a sociedade norte-americana, que parece suscitar com freqüência maior do que a média essa necessidade de fugir do convívio. E também com os "naturebas românticos", que se acham no direito de intrometer-se no curso da natureza. Na melhor das intenções, mas muitas vezes com imensa ignorância. O grande sábio do filme é o rapaz de uma população do Alasca, que diz que sua cultura simplesmente respeita os ursos. E assim convivem, com a distância necessária a ambas as espécies.

Vários pensamentos me passam pela cabeça quando penso no filme, mas se eu precisar parar e refletir para compor uma reflexão profunda, vou esquecer o filme sem recomendá-lo. Então fica a sugestão, e o espaço aberto para quem quiser depositar suas reflexões.

5 comentários:

Osame Kinouchi disse...

Maria, aparentemente nao tenho acesso à CH. Vc poderia me mandar um pdf da noticia?

Maria Guimarães disse...

oi osame. pois é, parece que ela não dá acesso. antes de pôr o comentário no teu blog eu fui conferir pra adicionar o link, mas não encontrei mesmo. eu vi na revista ao vivo, que li ontem enquanto almoçava. eles são danados, você vai ter que comprar a revista! acho que é a que está nas bancas, a capa é sobre questões urbanas.

Anónimo disse...

Fala Maria,

Bom, como eu ainda não estou de posse completa das minhas faculdades mentais... vou me resignar a dizer o seguinte: "Maria, bixo, não faz isso não: Quando vc for ao cinema, vai pra ou por escapismo!" :-)

Eu costumo brincar com os meus amigos aqui e dizer o seguinte: "Se eu quisesse cultura, eu ia pra escola." Ou então "Se eu quisesse aprender alguma coisa, eu abria um livro e estudava." Como vc vê, sem a menor pretensão de ser profundo... só quero dizer que, quando chega o final-de-semana, eu não quero trombar num "filme cabeça"... não porque eu não goste ou não consiga entender, mas é que tem hora pra tudo nessa vida, inclusive pra se descansar a cabeça e se dar paz-de-espírito, jogar conversa fora, dar risada falando as maiores besteiras do Universo (que certamente nunca fizeram meus amigos me derem cabeçadas como o Zidane ;-), ...

No final das contas, existe uma certa homogeneidade na raça humana: "Dadas as devidas condições, as pessoas agem da mesma maneira." Ou seja, o 'problema' do Brasil é que não há estatísticas o suficiente: Se houvessem tantos dados quanto há aqui (USA), eu aposto como vc ficaria chocada com seu próprio país. ;-)

Não me entenda mal, não estou nem defendendo um nem atacando o outro: Só quero dizer que, no final das contas, é tudo farinha do mesmo saco. As diferentes expressões culturais podem puxar um pouco praqui ou prali... mas, não é lá grande coisa.

Isso posto, só te digo uma coisa: "A doença mais contagiosa que existe é a loucura!" Mas não aquela que vc pode medicar... mas sim aquela de gente que se diz "normal". Como é que uma pessoa pode ter tantos conflitos internos assim e preferir fugir deles enfrentando ursos?!!! Não cabe na minha cabeça...

Qualquer porcariazinha que me deixa "meio assim" eu já fico zureta tentando resolver pra não ter que ir dormir de cabeça cheia... ou seja, a jornada contra meus próprios demônios já é tão 'demanding'... mas é impossível, pra mim, não fazê-la. Portanto, não consigo entender como podem existir pessoas que simples e conscientemente escolhem fugir de seus monstros... como se pudessem se livrar de seus próprios pensamentos.

Mas, isso aqui já está ficando "dark side" demais... e, depois do meu "amigo-indiano-guru-particular", eu nem acho mais que Pink Floyd seja deprê: Virou música contente! :-) Então... vou só começar a me preparar que semana que vem minha mãe vem me visitar e, de quebra, ainda vamos num casamento dum amigo meu em NYC! Então, "up we go" e bola pra frente!

[]'s!

Maria Guimarães disse...

peraí, você tá contente ou aflito com a visita da mãe e o casamento do amigo? olha, que tá ficando americano!
você acha que me baseio em estatísticas? sou como o materazzi, ignorante. não sei o que é isso. quando falo em tendências diferentes nos eua em relação ao brasil, a coleta de dados foi bem pouco rigorosa: é a minha própria sensação ao conversar com as pessoas, num país e noutro. claro que sou brasileira e entendo melhor a cultura, coisa e tal. mas ninguém aqui jamais me disse que não gosta dos pais, com cara de que se trata de uma declaração normal (se alguém não gosta dos pais, sabe a tragédia que isso significa em termos de história pessoal); nunca ouvi ninguém ter horror a passar o natal com a família, porque mais de um dia juntos é tortura absoluta.
quanto ao escapismo, adoro um bom filme ruim. mas adoro também filmes (e livros) "cabeça". deve ser porque tenho mania de estudar.
abraço, bom fim de semana.

Anónimo disse...

Oi Maria,

Bom, espero estar mais "normal" hoje e, quem sabe, conseguir me explicar melhor. Até esperei e não falei nada ontem quando vi suas respostas... só pra garantir... ;-)

Eu estou contentíssimo com a vinda da minha mãe e com o casamento do meu amigo! Não me entenda mal, mas a 'heritage' italiana me impede de sentir qualquer coisa "anti-mãe"! 8-D Já com respeito ao meu amigo... vou dizer: "É muito legal quando vc vê que as 2 pessoas combinam e formam um bom par, com uma dinâmica de complementaridade harmoniosa." E, só pra eximir todas as dúvidas possíveis, te digo já: "Todos os preparativos pra vinda da minha mamma já estão prontos, desde o carro alugado até os passeios que vamos fazer!" ;-)

[N.B.: Pra eu virar "americano" no sentido que vc implicitamente quis expressar... ainda vai demorar algumas incarnações! ;-]

Agora, Maria, sacanagem vc 'quote' o Materazzi! Hilário, mas sacanagem... :-D

Em compensação, eu acho que estou precisando conhecer essas pessoas que te deixaram essa impressão tão "positiva" dos brasileiros... muitas das pessoas que eu conheço não se comportam de forma assim tão diferente... às vezes, tudo o quê há é um verniz. Mas, como eu já disse acima, eu não estou aqui nem pra defender nem pra atacar ninguém, nem culturas. Eu só acho que essa visão estereotípica é bem menos condizente com a realidade do que a minha experiência tem mostrado. Mas, 'then again', isso pode muito bem ser apenas um problema da minha experiência. ;-)

Quanto a estudar... sinto muito, digo pra vc a mesma coisa que digo pros meus amigos aqui: "Se eu gostasse de estudar ou de pensar eu estava na escola!" ;-) Ainda acho que aprender qualquer coisa na "telinha" (do cinema ou da TV) tem que ser encarado com cuidado... muito mais cuidado do que quando vc aprende com seus amigos.

[]'s!