12 julho 2006

Recolonização ecológica

Uma das novas estratégias de conservação propostas em tempos recentes envolve reintroduzir animais onde eles existiram um dia. No caso de espécies extintas, a idéia é procurar substitutas entre seus parentes próximos ou similares ecológicos.

Escrevi no ano passado uma notícia para a ComCiência sobre o assunto. Nela, citei um comentário publicado na Nature por um grupo de 12 ecólogos norte-americanos.

Sua proposta é restaurar processos ecológicos dentro de áreas cercadas em regiões dos Estados Unidos que foram desprovidas (segundo eles por ação do homem) de seus grandes animais. Para substituir a fauna original, seriam utilizados guepardos, leões, elefantes... e a tartaruga-de-bolson (Gopherus flavomarginatus - essa da foto, que peguei emprestada do site "The wild ones").

A tartaruga é parte importante do projeto, pois é a reintrodução menos discutível. Ela existia em parte do território dos Estados Unidos, mas hoje em dia está restrita (e por isso ameaçada) a um vale no México. Estender sua distribuição de volta até os Estados Unidos é ecologicamente mais simples do que soltar leões africanos no país. Além disso, tartarugas são menos ameaçadoras.

Volto ao assunto porque saiu na PLoS Biology um artigo jornalístico interessante, que discute essas iniciativas de reintrodução. Vale a pena dar uma olhada. (Como o Osame disse que blogues citam outros blogues, não posso deixar de mencionar que cheguei ao tal artigo graças ao The Loom).

Um dos autores do comentário da Nature do ano passado, Harry Greene (Universidade Cornell, EUA), esteve recentemente no Brasil. Ele me contou que um grupo de tartarugas será transferido para os Estados Unidos já em setembro deste ano, a partir de uma população criada em cativeiro numa fazenda americana. O interessante é que a transferência tem que ser feita com imenso cuidado, porque esses bichos são extremamente sociais. As tartarugas-de-bolson vivem sozinhas em tocas, mas ao espiar para fora têm que reconhecer seus vizinhos. Senão, saem em busca de seu lar. Por isso, os pesquisadores têm que montar uma complexa operação para transferir o grupo social inteiro, para tocas com a mesma distribuição espacial.

Greene acredita que o projeto está suscitando novo interesse da população, além de financiamento privado (neste caso, de Ted Turner). Ele comemora que daí podem sair mais possibilidades de conservação.

8 comentários:

João Carlos disse...

Infelizmente parece que a coisa não é tão simples assim. Uma matéria do boletim Physics News Update n° 781, intitulado "A sincronização da Extinção" (uma tradução pode ser encontrada aqui), dá conta de que os "santuários" podem não ser a solução.

Pode ser que eu esteja dizendo uma tolice, mas acho o dado relevante.

João Carlos disse...

Desculpe, o link para a tradução saiu errado. O certo é este.

Maria Guimarães disse...

obrigada pelo comentário, joão carlos. eu também custo a ser convencida de que iniciativas assim possam funcionar, mas no fim fico na torcida. quem sabe...
mas esse argumento físico me deixou muito curiosa. estou louca para tentar entender o artigo.

João Carlos disse...

No artigo original, o AIP dá o email do autor do estudo, Govindan Rangarajan, rangaraj@math.iisc.ernet.in, e o website dele http://math.iisc.ernet.in/^ragaraj.

Mas, macacos me mordam se eu conseguir entender alguma coisa do trabalho... Melhor perguntar ao Daniel Doro Ferrante (meu Professor Particular de Física de Altas Energias >8-D...)

João Carlos disse...

Corrigindo (mais uma vez... >8-P...) o website é http://math.iisc.ernet.in/~rangaraj. [Desculpe: há dias onde eu estou com dez polegares em duas mãos esquerdas...]

Maria Guimarães disse...

daniel, osame... quem se habilita a me explicar o artigo?

João Alexandrino disse...

João e Maria, penso que o artigo é relevante se pensarmos por exemplo em alterações climáticas que afectam a distribuição das espécies ao longo da sua história. Esse é um exemplo das tais "forças externas comuns que tendem a provocar extinção de populações isoladas". Hoje é possível trabalhar com modelos bioclimáticos de distribuição de espécies e tentar fazer extrapolações tanto para distribuições passadas como para distribuições futuras. Esta é uma das formas que hoje podem ser utilizadas para fazer planejamento de conservação, só para dar um exemplo. Espero que o pessoal de "re-wilding" esteja a trabalhar com estes e outros modelos. Abs.

Osame Kinouchi disse...

Vou ler o artigo, depois te falo.